A alumna de Línguas Estrangeiras e Aplicadas vive em Londres desde 2007 e define o que fazer nos 6000 hotéis da rede Intercontinental em casos como desastres naturais, pandemias e terrorismo.
 
Lembra-se do primeiro dia como estudante da UMinho?
Lembro-me de me sentir entusiasmada por estar ali e um bocado ansiosa por conhecer os colegas.

Porquê a UMinho?
É uma universidade com boa reputação e o curso atraiu-me.

Licenciou-se em Línguas Estrangeiras e Aplicadas. De onde veio essa paixão pelas letras?
Sempre adorei línguas. Cresci num ambiente bilingue e sempre soube que queria estudar o maior número possível de línguas. Sabia que me poderiam abrir portas para trabalhar durante um tempo no estrangeiro.

Que recordações guarda desse período?
Foi um tempo memorável. Tive colegas e professores fantásticos, viajei, aprendi imenso, diverti-me muito também, claro. Foi o local perfeito para a minha formação.

Na altura queria trabalhar no ramo da interpretação e tradução. Mas a vida levou-a para outras andanças. Como começou a trabalhar na área da gestão de risco/crise em ambiente hoteleiro?
O setor hoteleiro pareceu-me ser a combinação perfeita em termos profissionais, porque me permitia falar línguas estrangeiras todos os dias e trabalhar num ambiente multicultural muito focado em pessoas. Não há dias iguais. Após a licenciatura, fiz um estágio num hotel e adorei! Em 2007, inscrevi-me na Universidade Oxford Brookes, no Reino Unido, na licenciatura “Gestão de Hotelaria e Turismo”, focada na gestão de crise em grupos de grande escala. Estava a acontecer tanta coisa no mundo que sempre que via os noticiários tentava perceber, por exemplo, o porquê dos ataques terroristas e de outras situações críticas, para conseguir evitá-las no futuro. Um bocado idealista, claro, mas felizmente encontrei um emprego que me faz sentir realizada.

Trabalha há oito anos no Intercontinental Hotels Group, os dois últimos como coordenadora da equipa Global Resilience. Explique-nos o que faz.
O que fazemos a nível mundial é criar e gerir programas de gestão de crises, continuidade de negócios, identificação e planeamento contra futuros riscos. Sou ainda responsável pelo programa de gestão de riscos ao nível da estratégia da empresa. Em termos práticos, a minha equipa treina as pessoas para que saibam o que fazer perante acontecimentos potencialmente perigosos e define estratégias que asseguram o normal funcionamento do espaço, mesmo em situação de crise.

De que situações de risco estamos a falar?
Desde ciberataques a desastres naturais, como terramotos, tsunamis e furacões, passando por questões de segurança, ataques de terrorismo, manifestações, pandemias, entre outros.


"Adorava arranjar forma de antecipar o futuro"

Recorda algum episódio menos feliz ou mais difícil de contornar?
O contexto atual é um excelente exemplo, não só pela pandemia de covid-19, mas também devido a outras situações que têm gerado uma pressão extra nos recursos da empresa. Por exemplo, nos EUA, a covid-19 continua a ser um problema, há manifestações do movimento Black Lives Matter a decorrer e a fase dos furacões está a chegar. Isto significa que a minha equipa tem que estar preparada para ajudar no que for necessário, de forma a assegurar a segurança dos hóspedes e dos colegas e, claro, a continuidade da empresa no país.

De que forma conseguiram dar resposta à covid-19?
Os nossos peritos conseguiram criar rapidamente materiais educacionais e de apoio aos hotéis para a proteção das pessoas. Mas não foi fácil a nível empresarial, porque os hotéis foram obrigados a fechar. Felizmente, a indústria está a começar a dar sinais de recuperação. Durante o pico da pandemia, algumas propriedades do grupo foram convertidas em locais de alojamento a médicos, enfermeiros, entre outros. É importante realçar esse tipo de apoio que os hotéis podem prestar em tempos de crise. São gestos que me deixam orgulhosa.

Tem um cargo de grande responsabilidade. Qual é a maior dificuldade?
Adorava arranjar forma de antecipar/prever o futuro e, assim, conseguir planear uma resposta perfeita para todas as crises. Posso sempre sonhar, não é?! [risos]

Lida bem com a pressão?
Sim, faz parte do meu trabalho. Portanto, é uma coisa com a qual tenho de lidar bem.

Como está a correr o regresso à “normalidade” em Londres?
De forma gradual, como aconteceu em Portugal. A situação foi mais complicada porque as regras de distanciamento começaram a ser tidas em conta mais tarde. Houve mais infeções e óbitos, infelizmente. A reabertura dos espaços está a ser feita com muito cuidado pelo Governo.

Acha que o setor hoteleiro e do turismo está a ganhar um novo ânimo?
Sim, definitivamente. Nota-se que as pessoas estão ansiosas por tirar férias e o setor da hotelaria e do turismo tem tomado várias medidas para garantir que qualquer regresso à “normalidade” seja feito de forma cautelosa e segura. Acho que as companhias aéreas sofreram mais do que o setor hoteleiro, mas como fazemos parte do mesmo ecossistema acabamos por sentir o efeito quando um dos dois sofre algum transtorno.

Já trabalhou em hotéis de três países: Portugal, Irlanda e Reino Unido. Há muitas diferenças em termos de gestão/clientela?
Boa pergunta, nunca tinha pensado nisso. [pausa] Há diferenças culturais quer em termos de clientela quer na forma de trabalho. Na minha opinião, os portugueses são mais diretos e simpáticos, os ingleses são mais distantes, mas muito profissionais, e os irlandeses são sociáveis e mais impulsivos.

De que forma a formação adquirida na UMinho a ajudou em termos profissionais?
Ajudou de várias formas. Fez-me crescer imenso e permitiu-me estudar no estrangeiro. Também tive professores que me encorajaram muito, especialmente Filomena Louro. E, claro, contar com pessoas que acreditam mesmo nos alunos faz toda a diferença.

Gosta de viver no Reino Unido?
Adoro! É um país muito acolhedor e com muitas oportunidades.

Pretende regressar a Portugal?
Gostava, mas sem planos concretos de momento.

Ainda mantém ligação com colegas da UMinho?
Sim, com os mais chegados.
 
Gosta de viajar e torce pelo Benfica
 
Um livro. “The unthinkable: who survives when disaster strikes and why”, de Amanda Ripley.
Um filme. “The green book”, de Peter Farrelly.
Uma música. “Stand by me”, de Ben E. King.
Um clube. Benfica.
Um desporto. Caminhadas.
Uma viagem. Nova Zelândia.
Um passatempo. Viajar.
Um vício. Chocolate.
Um prato. Bacalhau com natas.
Uma personalidade. Martin Luther King Jr.
Um momento. Conseguir o trabalho que sempre quis.
UMinho. Boas memórias.