A alumna da UMinho destaca-se pela coragem, pela determinação e pelo sacrifício no seu percurso profissional. Licenciou-se em Engenharia e Sistemas de Informática, mas a gestão faz parte do seu dia. A experiência e o trabalho comprovado levam-na a altos voos e a liderar grandes marcas internacionais. 

Porquê a escolha da Universidade do Minho para a sua formação superior?
A UMinho tinha (e tem) uma excelente reputação. Acreditava que era uma entidade com credibilidade, à qual me queria associar. Foi, sem dúvida, a minha primeira escolha!

Lembra-se do primeiro dia na academia? Consegue identificar algumas das sensações vividas?
Estava muito motivada pelo desafio do curso. Recordo-me do entusiasmo de ir explorar uma nova fase da vida, aprender o conceito, as novas disciplinas, conhecer os novos professores e colegas, as instalações...

Que principais recordações guarda desses tempos?
Gostei imenso dos cinco anos em que frequentei a licenciatura em Engenharia e Sistemas de Informática [LESI]. Foi uma experiência fantástica, desde a aprendizagem, os projetos, os professores e, claro, não esquecer as amizades e as celebrações com o Enterro da Gata! Muito boas memórias, sem dúvida.

Teve alguma passagem associativa/cultural nesse período?
Apenas fã da Gatuna. Como nunca tive muito jeito para cantar ou para música, pelo menos apoiava as minhas amigas que pertenciam ao grupo.

O que motivou a escolha do curso em específico?
Na altura, as tecnologias de informação eram um mundo que estava a evoluir muito rápido e que me despertava imensa curiosidade. Sempre tive vontade de aprender coisas novas e este curso era como descobrir um mundo novo para mim. Além disso, na altura era uma das engenharias que requeria uma média de acesso mais alta para conseguir entrar. Quanto maior era o desafio, mais me agradava essa opção.

Entrou em 1991 em LESI. O que imaginava para o seu futuro naquela altura?
Tinha 17 anos e ter uma boa formação era importante para mim. Nessa altura já tinha uma paixão por negócios, mas ao mesmo tempo o estímulo intelectual recaía sobre as tecnologias de informação. Sempre tive muita energia para aprender, para explorar coisas novas. Por isso, quando terminei a licenciatura, fundei com a minha grande amiga e colega de curso, Isabel Teixeira, uma escola de Informática. Tivemos esse projeto durante cinco anos em paralelo com os nossos trabalhos na indústria.

Falando da sua experiência profissional em grandes empresas como a Sonae e na Unicer, que vivências recolhe dessas passagens?
Gostei imenso de me iniciar no mercado do trabalho. Na Sonae, era tudo uma grande novidade, aprendi bastante e trabalhei com equipas excelentes. Foi como uma continuação do curso. Passados quase três anos tive a oportunidade de ir trabalhar para a Unicer, na minha primeira função de liderança. Geria uma equipa, fizemos projetos inovadores e já tive acesso a formação internacional [sobre o software corporativo SAP]. Deu-me realmente uma grande bagagem e preparou-me para dar o passo seguinte, numa escala internacional.

Em 2002 chegou à Novartis. O que a aliciou para abraçar essa nova etapa?
Ainda me recordo da primeira chamada que recebi de um headhunter a perguntar se eu estava interessada em trabalhar numa grande empresa, com sede na Suíça. Nessa altura, como frisei, trabalhava na Unicer e geria a empresa que tínhamos criado há cinco anos. A minha paixão por gerir negócios era clara! Na altura, achei que a Novartis me abriria as portas para um novo mundo. Estava a abraçar um projeto de uma multinacional de 50 mil milhões de dólares americanos, presente em 140 países e mais de 120 mil pessoas. A função que me propuseram era para liderar uma equipa internacional, parte de uma implementação de SAP gigantesca. Tinha colegas e membros da equipa baseados nos vários continentes, sendo a maioria nos EUA, Europa e Ásia. Achei que ia crescer profissionalmente e pessoalmente. No entanto, não queria perder de vista a minha grande aspiração profissional, daí que sempre tivesse considerado que este passo me iria ajudar a construir uma base sólida para progredir. E assim foi! Depois de sete anos na área de TI, a liderar programas e equipas cada vez maiores e a dar à empresa o melhor de mim, decidi partilhar o meu sonho profissional. Tive um apoio fantástico. Pude voltar a estudar, desta vez na escola de negócios do INSEAD, em Paris e em Singapura. Pude fazer a transição que tanto queria. Fiz um programa de rotação dentro da empresa focado em marketing e vendas, em Espanha. Tive a oportunidade de desempenhar várias funções durante um curto espaço de tempo, como representante de vendas, gerir uma marca da Novartis, fazer projetos de excelência e muito mais... Correu muito bem, dei o meu melhor, apesar de me custar ter a família em países diferentes. O meu marido na Suíça, os dois filhos a viver comigo em Barcelona e o terceiro filho a caminho. Viajávamos quase todos os fins de semana. Foi um período intenso. Porém, quando os objetivos são claros e estamos todos alinhados, funciona! Depois desta rotação fui selecionada internamente para ser a diretora geral da Sandoz, na Suíça (uma das empresas da Novartis). Foi o primeiro negócio “a sério” que tive a oportunidade de gerir – quase 200 milhões de francos suíços brutos em vendas.

Recentemente afirmou que gosta de desafios, aprender coisas novas, conhecer outras culturas e ambientes diferentes. Como se enquadra este perfil, trabalhando 16 anos na mesma empresa, como sucedeu na Novartis?
Sem dúvida! Devo dizer que esses 16 anos deram-me muitas oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento. A Novartis, na altura, tinha uma grande diversidade de negócios. Pude trabalhar na parte farmacêutica, nos medicamentos OTC, na saúde animal e nos genéricos e biossimilares. Além disso, as funções tinham sempre associado um aumento de complexidade e dimensão. Depois da primeira experiência de diretora geral, fiquei responsável por um grupo de países na Europa, no qual os respetivos diretores gerais reportavam a mim. Depois, fiquei como responsável pelas operações comerciais globais, assumindo ainda o cargo de membro da comissão executiva da Sandoz, uma divisão de 10 mil milhões de dólares. Relativamente à aprendizagem, ao longo dos anos sempre fiz questão de estudar e tive oportunidade, com a Novartis ou de forma privada, de efetuar cursos intensivos (e de curta duração) em escolas de negócios, como a IMD, na Suíça, a Wharton e Harvard, nos EUA. Olho para trás com humildade. Trabalhei imenso, estudei, aprendi e tive muito apoio da família, colegas e chefes fantásticos que puxaram por mim. Foram, assim, 16 anos fantásticos que me fizeram alcançar os sonhos profissionais.

Em 2018 deu um novo rumo à sua vida e mudou-se para a Performance Health, considerada a maior produtora e distribuidora de produtos de reabilitação e medicina de desporto. Consegue descrever-nos as suas funções?
Sou responsável pelo negócio internacional, ou seja, todos os países onde estamos presentes com os nossos produtos, exceto os da América do Norte. Assim, sou responsável por mais de 100 países. Temos operações comerciais em Inglaterra e com centros de distribuição internacional, na Franca e na Austrália. Além disso, temos distribuidores e parceiros estratégicos em todos os continentes, que estão sob a minha responsabilidade.

O seu crescimento certamente não vai parar por aqui. Quais são as suas maiores ambições?
Além deste fascínio por me desenvolver profissional e pessoalmente - que acho que nunca vai terminar -, nesta fase penso muito no impacto e no valor que posso criar às empresas onde trabalho e às pessoas com quem trabalho. Quero continuar a desenvolver-me nesta área da gestão de negócios e acredito que, além destas funções estratégicas e operacionais executivas, gostava de contribuir para outras empresas e projetos em funções não executivas que possam beneficiar da minha experiência.

E um regresso a Portugal... Está fora de hipótese?
Adoro Portugal, tenho orgulho de ser portuguesa e voltar a viver em Portugal é uma das hipóteses do futuro.

Acha que a academia a moldou para as questões profissionais?
Com toda a certeza. Valorizo imenso a academia. Sempre gostei de estudar, da disciplina da academia e de ter objetivos definidos. A UMinho preparou-me para iniciar a minha vida profissional, estimulou a curiosidade intelectual de tudo o que é novo, ensinou-me a investigar, aprender e progredir. Sem dívida, uns excelentes princípios.

Tem acompanhado à distância a “vida” da UMinho? O que destaca desta instituição?
Sim, tento acompanhar o progresso da UMinho, mesmo que à distância. Acho que a competência e o know-how das pessoas que aí trabalham continua a ser reconhecido de forma muito consistente. O progresso da tecnologia, dos centros de investigação e medicina, a visão UM2020 são, sem dúvida, sinais do progresso que me inspiram e orgulham. O facto de a UMinho acolher estudantes estrangeiros parece-me ser uma iniciativa fantástica no sentido de abrir as portas ao mundo e dar a conhecer o que temos de melhor no nosso país, ao mesmo tempo que se proporciona aos nossos estudantes uma exposição e um contacto direto com outras culturas.

Os gostos de Isabel Afonso

Um livro. "The pause principle: step back to lead forward", de Kevin Cashman.
Um desporto. Corrida.
Um prato. Bacalhau e ovo cozido com azeite.
Um vício. Desporto.
Uma coleção. Não faço.
Um momento. Muitos com a minha família.
Uma viagem. Brasil.
Um lugar. A minha casa na Suíça.
Um lema. "Go and get it".
A família. Marido e três filhos fantásticos
A UMinho. Progresso.