​Fer​nando Ferreira, 57 anos, diretor do 2C2T da UMinho nasceu em Riba de Ave, filho de uma doméstica e um contabilista - que em determinada fase da vida foi dono de uma fábrica que reciclava desperdícios têxteis. Mal concluiu a 4ª classe, mudou-se para Guimarães, onde completou o ensino secundário, vivendo em regime de internato no Lar do Estudante até ter idade para fazer de moto o percurso entre casa e o liceu. Os primeiros dinheiros ganhou-os a dar aulas de Matemática na Francisco de Holanda, enquanto fazia o curso de Engenharia Têxtil na Universidade do Minho, que acabou em 1984. Ficou logo como monitor, enquanto fazia o estágio na Riopele, onde se demorou mais de um ano. Doutorou-se em Leeds (onde viveu três anos), em 1994, com uma tese sobre a automatização da costura. Professor associado no Departamento de Engenharia Têxtil da UMinho, casado com uma engenheira têxtil e tem uma filha, Beatriz, estudante de Engenharia Têxtil. 

O Centro de Ciências e Tecnologia Têxteis da UMinho (2C2T) é a porta onde as empresas vão bater quando têm um problema cabeludo para resolver - ou estão desertas de ideias para fazer algo diferente que lhes confira um extra de competitividade.

"Não nos limitamos a esperar que nos venham pedir ajuda. Também somos proativos e propomos projetos às empresas", explica Fernando Ferreira, o diretor de um centro de I&D em que estão envolvidos cerca de uma centena de investigadores, desde doutorados da casa até técnicos, passando por bolseiros e alunos de mestrado ou doutoramento. Quando a Somelos ficou alarmada com a elevada percentagem de defeito que estava a ter no fabrico de um fio elástico muito fino, revestido a algodão e com elastano e lycra dentro, foram ter com o 2C2T e em conjunto arranjaram uma solução que optimizou o processo de fabrico, reduzindo o desperdício e tornando-o energeticamente mais eficiente. Melhor era impossível.

O fato de bombeiro que, através de sensores embebidos na estrutura têxtil (ou seja, não são cosidos nem laminados), fornece informações sobre a localização e sinais vitais do utilizador - ritmo cardíaco, temperatura exterior e do corpo, transpiração, etc - que a Latino está a apresentar no mercado (e deu origem a uma patente europeia), é fruto da colaboração da empresa com o 2C2T.

Os airbags para os Audi autónomos, que está a desenvolver com os alemães da ZF, que têm fábrica em Ponte de Lima, são um dos cerca de 40 projetos, de dimensão e maturidade variadas, que a 2C2T tem em mãos. "Estamos com vários projectos na área automóvel", confessa Fernando Ferreira, que escolheu a vitela, excepcionalmente acompanhada por um copo de vinho (por norma bebe água, para evitar que à tarde lhe dê a preguiça), um dos dois pratos do dia no Grill da Universidade, onde almoça todos os dias da semana e a que não poupa elogios: "Fazem o melhor salmão grelhado do mundo", garante. Transformar os problemas em negócios é uma das especialidades do Departamento de Engenharia Têxtil (DET) da Universidade do Minho. E foi com esta atitude descomplicada que ultrapassou a desesperante escassez da procura por parte dos estudantes, quando na viragem no milénio se instalou a perniciosa ideia que a têxtil era um indústria sem futuro no nosso país - ideia que a prova dos nove do tempo acabou por demonstrar ser errada. "A publicidade negativa à volta da têxtil tornou extremamente difícil a nossa tarefa de captar alunos. Mas apesar das pressões da Reitoria para fecharmos o curso de Engenharia Têxtil, nós resistimos, lutámos contra a maré, diversificando a oferta, e hoje ninguém duvida de que tivemos razão", afirma Fernando Ferreira.

Com cerca de 5OO alunos, nos três ciclos (licenciatura, mestrado e doutoramento), de uma oferta alargada a áreas como Design e Marketing de Moda, Comunicação de Moda e Química Têxtil, o DET da UMinho defronta-se agora com um problema completamente diferente - o de não conseguir satisfazer as solicitações das empresas.

"Os alunos que formamos não chegam para as encomendas. Ninguém sai daqui para o desemprego", conclui o diretor do 2C2T, um centro de investigação que desde 2003 tem sido sucessivamente avaliado como Excelente por um painel de peritos internacionais.


Entrevista: Jornal T​