Aos 79 anos, o aluno mais velho da Universidade do Minho licenciou-se em Engenharia Têxtil e já está a fazer o mestrado. Fernando França Pereira cumpriu nos últimos dias o sonho de "vestir o traje da universidade e receber as insígnias do curso" e vai agora continuar a estudar. "Acabei o curso, mas não vou trabalhar para lado nenhum. A minha reforma é para estudar e continuar a realizar o meu sonho", disse ontem ao JN.
 
Residente em Vizela, é no campus de Azurém, em Guimarães, que passa os dias a estudar. Na semana das festas do Enterro da Gata, em Braga, Fernando prefere estar na biblioteca a fazer os trabalhos académicos que tem que entregar nos próximos dias. "Os meus colegas de curso querem que eu participe, mas tenho muitas coisas para fazer", frisou, recordando que tem de estudar "dez vezes mais que os colegas da licenciatura em Engenharia Têxtil". Na imposição das insígnias, no último sábado, a família reuniu-se para a festa. A neta Ana Ferreira publicou alguns vídeos das redes sociais, com milhares de partilhas e de mensagens a louvar a persistência do "avô França", como é tratado pelos netos.

Fernando França é o mais novo de oito filhos e quando terminou a quarta classe (atual quarto ano do primeiro ciclo) foi trabalhar para os negócios locais de Gondomar, onde nasceu, com apenas 10 anos. Aos 14 anos, o tio ofereceu-lhe emprego numa loja de ferramentas e ferragens no Porto, onde trabalhou até aos 20 anos, quando foi para África.
 
Tinha sido destacado para a enfermaria na linha de frente do combate na Guiné, mas um problema de saúde fê-lo ficar em Portugal mais uns tempos. Viajou mais tarde para Moçambique, primeiro como empregado e depois criando um negócio por conta própria. Por lá permaneceu 11 anos e casou por correspondência com a sua atual esposa. Lá nasceram duas das suas três filhas. Em 1974, veio, obrigado, para Portugal e nunca mais voltou a África. Após o regresso a Portugal comprou uma drogaria em Vizela, mas foi no negócio do tabaco que cresceu profissionalmente.
 
Em 1996, uma operação delicada fê-lo repensar a vida. A cirurgia foi bem-sucedida e voltou a abrir uma tabacaria. E, nessa altura, decidiu voltar aos estudos e completar o 12.° ano na Escola Secundária Francisco de Holanda, em Guimarães. Já na Universidade do Minho, concluiu o curso de Preparação para Maiores de 23 anos em 2011/2012, e ingressou em 2012/13 na licenciatura de Estatística Aplicada, tendo feito algumas disciplinas. Depois mudou para Engenharia Têxtil, terminando agora a licenciatura.
 
Para Pedro Arezes, presidente da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, a história de Fernando França é uma "lição".

Notícia: Jornal de Notícias