À terceira geração, as vinhas da Quinta de Golães deixaram de produzir vinhos verdes apenas para a família e para os amigos. Pela mão de Artur Meleiro e do seu primo, abriram-se ao exterior e já têm cinco referências. Atingir 60% de vendas nas exportações é objetivo de um homem que não quer limitar-se à casta Alvarinho, mas redinamizar a produção de castas antigas e esquecidas, com processo ancestrais e vinificação em madeiras portuguesas de carvalho e de nogueira.

A Valados de Melgaço (VM) é uma das novas produtoras de vinhos verdes, na subregião de Monção e Melgaço, oásis do Alvarinho. Detida por Artur Meleiro e por um seu primo, a empresa mantém as suas raízes familiares, mas agora virada para a produção externa com marca própria e para a exportação. A produção assenta numa área de vinhas de cerca de quatro hectares, mas de forma dispersa, em várias parcelas, incluindo vinhas velhas com mais de 50 anos. Todas essas parcelas se localizam em Melgaço, na freguesia de Paderne e respondem pelo nome de Quinta de Golães, uma das marcas de vinhos da empresa.

“Na Quinta de Golães produzimos uvas para a nossa produção própria de vinhos, mas também vendemos ou compramos à Adega Cooperativa de Monção”, explica Artur Meleiro ao Jornal Económico. “Sempre produzimos vinho para beber em casa, juntamente com os amigos. Vamos na terceira geração. Nasci nesse meio. O meu pai era responsável pela viticultura e veio do Brasil para Portugal. Sempre acompanhei o meu pai, o meu avô, os meus tios. Todos eles eram engenheiros muito multifacetados”, diz.

Também Artur Meleiro é engenheiro industrial de produção e de sistemas (informática) de formação académica. Mas o bicho do vinho e da vinha esteve sempre lá: “Saí com 17 anos para a Universidade do Minho, em Braga e em Guimarães, mas nunca deixei de ter o gosto pela viticultura, que aliei à necessidade que o meu pai tinha de ajuda. Sempre tirei férias para fazer as vindimas, porque gosto do campo da vinha, dos vinhos. E vendíamos as uvas à Adega Cooperativa de Monção”, revela.

“Até que chegou uma altura em que nos perguntámos porque é que não tínhamos um vinho com marca própria. Na família sempre houve a ideia de fazer isto, sempre houve o bichinho de criar rótulos, mas nunca se tinha reunido as condições. Isso aconteceu em 2013. Achei que havia condições compatíveis entre a minha vida profissional e a possibilidade de lançar uma marca própria de vinhos, que já tinha registado”, revela. Artur Meleiro admite que esteve 10 anos a pensar neste projeto. Em 2013, lançou o primeiro VM, 100% Alvarinho. “E foi um sucesso estrondoso. Produzi 2.500 garrafas. Em agosto, já não tinha vinho. Foi a primeira vez que não tivemos vinho em casa”, confessa.

“Face ao bom acolhimento do mercado e da crítica, achei que devia continuar. Em 2014, dupliquei a produção da VM e iniciei a produção de vinho com a marca Quinta de Golães, com rótulo branco. Passei para uma produção de 7.500 garrafas. Em 2015, aumentei a produção para 15 mil ou 20 mil garrafas. Em 2016, passei para 35 mil garrafas, das quais 3.500 foram de Quinta de Golães. Este ano [2017] lancei o vinho base para o espumante VM, sem qualquer açúcar, no final de abril, início de maio”, é a forma como Artur Meleiro sintetiza a progressão da empresa.

“Também já estou a produzir verde tinto. Trabalho com todas as castas tradicionais dos vinhos verdes, não é só o Alvarinho. Gostava de trabalhar com as castas tradicionais dos vinhos verdes que estão em risco de desaparecer, quer brancas, quer tintas, como a Vinhão, Brançalho, Espadeiro, Borraçal, Pedral ou Pical”, destaca.

“É nesta altura que percebo que a Valados deixa de ser um projeto do Artur Meleiro enquanto complemento de reforma. E comecei a pensar: se calhar, o Artur Meleiro antecipa-se à reforma e dedica-se a isto para fazer um projeto para viver dele, para passar destes números para uma produção já com algum relevo, do tipo 50 mil garrafas de vinho por ano”, explica. Foi esse patamar que o empresário conseguiu em 2017, uma produção de 50 mil garrafas. “Agora, queremos estabilizar nesta produção anual, com cinco referências diferentes: dois Quinta de Golães, um VM Reserva, um VM Espumante e VM Vinificação Natural”, garante. Desde 2013, o investimento ascende a cerca de 400 mil euros.

Meleiro quer fazer vinhos a partir de uvas, com processos naturais, com a acidez e o teor alcoólico certos. “Estou num terroir privilegiado para a produção de Alvarinho e tenho todas as condições para produzir vinhos de marca própria e não me estar a dispersar na produção da marca da cooperativa”, justifica.

Para o co-proprietário da VM, as suas vinhas diferenciam-se de outros terroirs da região e conseguem “tirar tudo do Alvarinho, que é uma casta muito rica”. Assegura que vai tentar aproximar-se “das técnicas mais ancestrais de vinificação, em cubas de madeira portuguesa, de carvalho ou de nogueira, sem sulfuroso para acelerar a fermentação”.

“Foi assim que conseguimos fazer o VM Vinificação Natural 2016, cujo processo está a ser registado. Não teve madeira, fizemos uma recriação da madeira, foi a madeira ter com o vinho. Não fazemos vinhos de cartilha, mas aproximamo-nos muito de certos vinhos naturais ou biológicos. Até porque há processos do natural ou do biológico que são antieconómicos nas vinhas que tenho a 700 metros de altitude”, assume.

A VM prevê ter faturado cerca de 80 mil euros em 2017, mas “o grande objetivo é ultrapassar os 200 mil euros de volume de negócios”. Neste momento, a empresa tem cerca de 5% das vendas nas exportações, essencialmente para mercados como a França, Suíça e Reino Unido. A meta, diz, é chegar rapidamente aos 60%, “apostando noutros mercados como os Estados Unidos, Japão e Alemanha, por exemplo, além de reforçar as exportações para a França, Suíça e Reino Unido”, destaca Artur Meleiro. No mercado interno, a VM vende 50% no canal HORECA – Hotelaria, Restauração, Cafetaria e os restantes 50% por clientes particulares, enquanto aguarda um acordo com uma distribuidora para entrar no segmento das garrafeiras. Em 2017, a percentagem de vendas no canal HORECA deve ter subido.