O Grupo Casais, uma das maiores construtoras nacionais, encerrou o ano passado em alta, batendo recordes e chegando aos 547 milhões de euros em termos de faturação agregada, como revela o CEO da empresa, António Carlos Rodrigues, em entrevista ao Jornal Económico. O crescimento deveria prosseguir este ano, mas o impacto da Covid-19 vai ditar um decréscimo do volume de negócios, ainda impossível de quantificar, mas com os danos controlados. 
 
Mesmo assim, António Carlos Rodrigues espera um aumento do volume de atividade no mercado interno, em contraponto a uma queda em determinados mercados externos. Mas o Grupo Casais prevê reforçar ainda este ano a sua presença nos países do Golfo Pérsico ou nos Estados Unidos, além de estar a preparar a entrada num novo mercado, o Gana.

Como decorreu a atividade do Grupo Casais em 2019? 
O ano de 2019 correu muito bem para o Grupo Casais. Tivemos mais de 547 milhões de euros de volume de negócios agregado. Foi um recorde, porque pela primeira vez ultrapassámos a barreira dos 500 milhões de euros de faturação. O volume de negócios consolidado do grupo no ano passado foi de 401,6 milhões de euros. O EBITDA atingiu 58 milhões de euros. No ano passado, registámos também resultados líquidos consolidados positivos em cerca de 24 milhões de euros. 
 
Quais eram as perspetivas do grupo para o presente ano e como se alteraram devido ao impacto da Covid-19?
Começámos este ano com perspetivas de crescimento acentuado. No entanto, com o impacto da pandemia, vamos registar um decréscimo face a 2019. 
 
Qual será a quebra prevista devido ao impacto da pandemia? 
Ainda não sei a dimensão dessa redução de faturação. Espero que a atividade do Grupo Casais em Portugal vá subir, comparada com o ano anterior. Outros mercados em que o Grupo Casais está presente foram mais impactados pela pandemia. Com efeito, os países emergentes foram os mais afetados, porque dependem muito de commoditties. Mercados em que estamos presentes, como Angola, Moçambique ou o Brasil estão a sofrer muito mais. Nestes casos, a retoma da atividade é menos evidente. 
 
Qual o contributo dos mercados externos para o volume de negócios do Grupo Casais?
Neste momento, o Grupo Casais fatura cerca de 70% nos mercados externos, ficando os restantes 30% da responsabilidade do mercado interno, de Portugal. Mas, já antes do surto da Covid-19, já no ano passado, se estava a notar uma subida da importância do mercado nacional em termos de faturação. Por isso, este ano, devido à quebra esperada para alguns mercados externos, e a esta tendência do mercado nacional, a percentagem do contributo de Portugal para o volume de negócios do Grupo Casais vai subir, vai passar dos 30%. 
 
Em que mercados externos é que o Grupo Casais está neste momento presente?
O Grupo Casais está neste momento presente em Espanha, Alemanha, Bélgica, França, Reino Unido, Angola, Moçambique, Marrocos, Argélia, Brasil, Dubai, Abu Dhabi, Qatar e Estados Unidos. Já tínhamos estruturalizado a nossa presença nas geografias externas. Mas, nas economias que agora se apresentam mais fortes, estamos a apontar para um reforço da nossa presença. 
 
Onde e como será feito esse reforço?
Durante o presente ano, o Grupo Casais vai reforçar a sua presença nos países do Golfo Pérsico, no Médio Oriente, e nos Estados Unidos. No mercado norte-americano, neste momento, só temos uma empresa, no Texas. Trata-se de uma empresa especializada no segmento de autoestradas, na construção de estruturas de contenção e similares. O nosso objetivo é levar para os Estados Unidos mais áreas de competência do Grupo Casais. É um mercado em que, devido ao impacto da Covid-19, vai de certeza apostar na construção de infraestruturas, em particular de hospitais. E continua a ser uma economia com robustez. Tal como o Reino Unido, que nos próximos meses há ter de tomar medidas do orçamento próprio para reanimar a economia. Também vamos apostar num novo mercado emergente. 
 
Que mercado será esse?
Apesar das dificuldades existentes neste tipo de países, já abrimos uma empresa do grupo no Gana para implementar no terreno uma oportunidade de investimento que detetámos, para desenvolver um projeto de construção de hospitais. Uma linha de investimento a exemplo do que já estamos a concretizar em Angola, onde estamos a construir um grande hospital, financiado por fundos internacionais. Estes países emergentes têm sempre oportunidades de investimento porque enfrentam grandes desafios como a migração, a escassez de água ou a necessidade de coesão territorial. 
 
É um balanço misto, com perdas controladas?
Sim, há de haver países e negócios em que vamos reduzir a nossa faturação e outros em que deveremos aumentar. Mas, em termos gerais, a operação do grupo ao longo de todo o ano vai reduzir em relação a 2019. Até porque em alguns desses mercados estivemos parados mais de um mês inteiro. Há a necessidade de se reajustar face a esta nova realidade, mas o grupo ganhou dinâmica com esta pandemia. Vamos estar melhor preparados para 2021 do que estávamos antes da Covid-19. O que é necessário é manter o controlo sobre a doença e já percebemos que temos aqui em Portugal uma máquina relevante de combate à Covid, que foi criada e se fortaleceu nos últimos meses. Mas além do empenho dos profissionais de saúde, é preciso fazer mais investimento neste tipo de infraestruturas para o futuro. 
 
O grupo recorreu a lay-off e a outras medidas de apoio lançadas pelo Governo? 
Queremos ampliar a nossa atividade noutros mercados externos e vamos sair da crise sem prejudicar as pessoas. O Grupo Casais emprega neste momento cerca de 4.500 pessoas, das quais cerca de mil são expatriados. Chegámos a ter lay-off porque houve paragens completas em certos segmentos de atividade, nomeadamente no mês de abril e nalguns casos também em maio. 
 
O grupo procedeu a despedimentos?
Não houve qualquer despedimento no Grupo Casais. Em relação a outras medidas de apoio, todos os recursos que tínhamos disponíveis, tentámos utilizá-los. Estamos num setor de atividade, a construção e obras públicas, em que os custos fixos são elevados. 
 
No seu entender, quais são as grandes áreas de investimento público em Portugal que permitirão ao Grupo Casais crescer?
Penso que as grandes áreas de investimento público em Portugal para os próximos anos serão os hospitais, a ferrovia, as águas, a energia e a reabilitação de edifícios. Apesar do grande esforço e emprenho dos profissionais de saúde, o que esta pandemia veio demonstrar é que, infelizmente, algumas infraestruturas hospitalares não conseguiram acompanhar o nível de exigências. Na ferrovia, uma das apostas do atual Governo, temos uma empresa especializada em geotecnia, que tem entrado e vai continuar a participar nos concursos. O setor das águas vai ter cada mais importância devido à escassez crescente e às maiores preocupações com a gestão do ciclo da água. As alterações climáticas, com cada vez mais secas e cada vez mais cheias, também vão ter um papel preponderante, com a necessidade de construção de diversas infraestruturas, como, por exemplo, túneis de drenagem. A energia também vai ser crucial devido à crescente importância da eficiência energética. É um setor em que queremos disponibilizar uma gama de produtos que vão fazer parte do nosso leque de ofertas aos clientes. E, por fim, a reabilitação, em que nos iremos posicionar como experts, seja o espaço do setor da hotelaria, um escritório ou uma residência. Vamos começar a comercializar um produto para estes três segmentos de atividade, o 'Covid-apto', que terá por objetivo reabilitar os edifícios, modernizá-los. 
 
Em que irá consistir este produto ‘Covid-apto’? 
É um produto para proceder a reformulações completas, modernizar os sistemas de dimatização. Isto também vai ajudar o setor do turismo a reinventar-se, a adaptar-se à nova realidade e a transformar muitas das atividades que hoje se praticam em edifícios em atividades touchless. Vamos oferecer soluções nesse sentido, desenvolvidas pela nossa equipa de inovação interna. Porque, por exemplo, no setor da hotelaria, não é só com o selo Oean & Safe', que o setor vai conseguir atrair mais clientes. 
 
Então, o que vai ser preciso?
Vai ser preciso proceder a muitas obras de transformação, porque há uma quantidade significativa de hotéis já com muitos anos. Há unidades hoteleiras que estão a precisar de uma reformulação completa. O Grupo Casais tem uma experiência significativa na construção de hotéis. 
 
Qual a experiência do grupo na construção de unidades hoteleiras?
Só nos últimos dez anos, o grupo participou na construção de cerca de 80 hotéis, essencialmente em Portugal.
 
Entrevista: O Jornal Económico