Inês Paredes tem um sonho de menina: ser realizadora / argumentista. Optou por se licenciar em Ciências da Comunicação e está a tirar o Mestrado em Design Editorial. Confessou que não o deve terminar por não se ver a fazer isso no futuro. Formar-se em Cinema é um desejo que ainda não é possível de realizar por uma questão financeira. Os cursos desta área são todos na Capital e a taipense revelou que a sua disponibilidade monetária não lhe permite avançar. Mas há algo que equilibra a formação.

Tem talento e provou-o recentemente ao ser distinguida com uma menção honrosa para "Melhor Filme Português". "Shinigami", assim se chama a curta metragem que fala sobre os incêndios de Pedrógão Grande e Trancoso que assolaram o País em 2017.

O CineNova, primeiro Festival de Cinema e Conhecimento Interuniversitário, realizou-se em Lisboa nos passados dias 21 a 23 de Fevereiro, promovido pelo Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa, e teve a participação de mais de meia centena de cineastas oriundos  de vários países à procura de reconhecimento. Desta vez foi uma vimaranense a brilhar. “Tudo o que fiz foi por ser autodidata e porque sou apaixonada pela sétima arte.” No que diz respeito ao curso de Ciências da Comunicação especializou-se em audiovisuais e multimédia, e isso deu-lhe alguns conhecimentos técnicos de vídeo. De resto, toda a parte criativa é dom. Inês paredes tem apenas 21 anos, mas está certa do que a realiza. 

"Shinigami" foi um projecto final de licenciatura em grupo. O facto de ser composto só por mulheres não teve nenhum motivo específico. Escolheu simplesmente as pessoas que sabia que trabalham bem. Dele fizeram parte a líder Inês Paredes, Márcia Fernandes, Marta Fernandes, Diana Alves e Susana Nevado. Porém, não é frequente ver o género feminino a assumir esse papel. Devem contar-se pelos dedos de uma mão as mulheres reconhecidas na área da direcção de filmes. “Acho que não é só no cinema, é geral. Claúdia Varejão é uma argumentista famosa, mas o seu nome não é tão sonante como os nossos realizadores homens. Não consigo encontrar uma explicação para esse facto. Portugal tem tido maior visibilidade nesta área, mas não a suficiente. E acredito que se houvesse mais fundos e ajudas poderíamos elevar o cinema português a um patamar internacional.”

Já participou noutros concursos. Em 2018, levou ao Fantasporto o vídeo comercial "Terminal de Cruzeiros", trabalho que também esteve a competir na Mostra de Projetos do Curso de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho, em 2017. Participou num festival em Nova Iorque chamado "A Rebel Minded Festival" em Julho do ano passado e este ano, já esteve na edição de 2019 do Fantasporto e estará em exibição, em Abril, na Mostra do Cinema Português, organizado pelo Cineclube do Barreiro, em Setúbal. Decidiu participar neste festival, por ser o primeiro festival de cinema interuniversitário do País, que promove conteúdo feito em escola, onde as condições são muito diferentes do contexto de trabalho e mercado da área. Quando questionada sobre a possibilidade de realizar uma longa metragem, assume que gostava muito de o poder fazer e que, de preferência, fosse um documentário. Quanto ao tema ainda está por definir. Mas também revelou que gosta de dramas.

Gostava de trabalhar lado a lado com o talentoso Manoel de Oliveira e ter no elenco do seu filme o actor Carloto Cotta e a actriz Anabela Moreira. Hollywood não é uma pretensão. O seu desejo é entrar para Cannes ou Berlim. Explorar o cinema Europeu e dar-lhe vida. “Sonho um dia poder estar nomeada para os Prémios Sophia que são os equivalentes aos Óscares e que são entregues pela Academia Portuguesa de Cinema. Estes têm mais importância para mim.” Diz não se interessar pela via comercial. Na realidade só se interessa em contar histórias. “Vou optar pelo que me realiza e não por aquilo que vende.” Garante que não é preciso ter muito dinheiro para se ser cineasta em Portugal e justifica alegando que o mais importante é ser criativo.

O prémio

"Shinigami" deu-lhe destaque na história do cinema. Defende que esta distinção é uma enorme motivação para não desistir do seu sonho e assume que foi uma felicidade e o reconhecimento do seu potencial. No que concerne à mensagem que quis passar com esta curta metragem, assegura que quis dar uma perspectiva diferente sobre um tema que foi mais do que massacrado. “As pessoas têm de olhar para o que se deixou para trás, para as casas queimadas, para as cinzas e encontrar um solução. No entanto esta curta-metragem pode ter ​várias mensagens e depende da interpretação que cada pessoa der.  Mas esta foi a mensagem que quis transmitir.” 

O Júri decidiu distinguir "Shinigami" por ser um método inovativo do tema dos incêndios e também por ter sido integral - mente realizado sem budget. Quanto ao jornalismo e audiovisuais não ficaram na gaveta. Depois de uma experiência de dois anos como redatora na secção de crítica do jornal universitário ComUM e editora da mesma durante o último ano da sua licenciatura, a aspirante a realizadora colabora, desde Novembro de 2017, com o blogue "Cinema Sétima Arte", o terceiro mais lido do País, nesta área.

Notícia: Bigger Magazine