Marta Inocêncio foi a primeira a concluir todos os módulos do curso profissional de Design de Moda do Cenatex, mas isso foi apenas o início de uma carreira de sucesso, sempre pautada por uma regra de ouro: "Quando acredito numa coisa, sei que vou conseguir - se não der pela direita, vamos pela esquerda. Há sempre uma solução."

Tinha 24 anos quando saiu dos escuteiros, para onde entrara como lobita, com apenas cinco anos. Já não lhe era mais possível conciliar os afazeres profissionais com os compromissos de caminheira. Marta teve de sair dos escuteiros, mas os escuteiros nunca sairão dela. A gramática do movimento – fraternidade e lealdade, respeito pelo próximo e pela Natureza, disciplina e coragem, otimismo e capacidade de superação – ficaram-lhe tatuados no caráter.

“Desde cedo aprendi a ter o sentido da responsabilidade, a não olhar só para mim, a aguentar o stress, a perceber que há sempre uma solução”, conta Marta, 36 anos, a propósito dos 19 inesquecíveis anos que passou nos escuteiros.

Uma paixão precoce pela bicharada (teria uns três anos quando adoptou uma galinha, o seu primeiro animal doméstico) explica a primeira opção quanto ao futuro, a de ser médica veterinária, que manteve em banho-maria quase até ao final do secundário, feito nas Caldas das Taipas. Subitamente, no final do 10º ano, resolveu mudar de rumo e convenceu a mãe, que tinha uma loja de decoração de interiores, a procurar com ela um curso de Estilismo – e acabou matriculada no Cenatex.

Marta não tem uma explicação definitiva para esta guinada, mas sabe que a ela não foi estranha a viagem de estudo de 10 dias a Barcelona, feita no 9º ano, em que viu coisas que nunca vira em Guimarães – desde as fantásticas obras de Gaudi até uma velhinha com o cabelo colorido.
“Comecei a pensar noutras coisas…”, resume Marta, sendo que a favor desta escolha de Design de Moda conspiram alguns antecedentes, como o seu espírito criativo, o jeito para desenho e gosto pela costura, aprendida com a avó Maria.

“A minha avó paterna era a minha compincha. Fazia-me as vontades todas e ensinou-me a costurar numa Singer de pedal, quando eu estava a começar a primária”, recorda.

Atinada e empenhada, foi a primeira a concluir todos os módulos do curso profissional de Design de Moda do Cenatex e assim, com 18 anos acabados de fazer, vemo-la a entrar para um estágio de seis meses na Têxtil DA, onde ganhou o primeiro salário – mas não os primeiros dinheiros, pois esses conseguiu-os ao acertar em cinco números do Totoloto.
No final do estágio não ficou na DA. Até tinha sido bem aceite, mas a têxtil lar não era a praia dela. “Tinha necessidade de procurar dificuldades que me permitissem crescer e evoluir. Precisava de desafios grandes”, explica Marta.

A próxima etapa, que lhe proporcionou os grandes desafios de que ela tinha fome, foi o gabinete de design da Varela & Macedo, que fabricava roupa de criança com marca própria (Astroland), um movimento natural para quem apresentara uma coleção de criança como projeto de final de curso.

“Foi uma ótima escola que me possibilitou aperceber-me de toda a mecânica de funcionamento da indústria têxtil. Como se costuma dizer, aprendi tudo e um par de botas :-)”, diz, desfiando algumas das boas recordações que guarda da meia dúzia de anos passados a desenhar a coleção da Astroland num período de vacas magras (2001-06).
Em janeiro de 2006, deixou a Varela & Macedo, não por a empresa estar já no seu estertor (ainda aguentaria mais um par de anos) mas por se sentir bloqueada, carente de novos desafios, que não tardariam a chegar, vindos de Vizela, onde a A. Ferreira & Filhos começara a construir a marca de roupa para bebé Wedoble, no âmbito da estratégia para combater a crise que feria o seu negócio tradicional.

“Eu já tinha na bagagem a experiência na área de criança. O que me entusiasmou foi o desafio de desenhar uma colecção de bebé construindo uma marca, a um tempo arrojada e clássica, controlando todo o processo criativo desde o aprovisionamento das matérias primas até as amostras estarem prontas”, conta Marta, que entre 2014 e 2017, em regime pós laboral, se licenciou em Marketing na UMinho, em mais uma prova da sua enorme capacidade de superação.

“Tem sido uma aventura extraordinária, numa empresa com um elevado nível tecnológico. Somos muito bons a fazer malhas tricotadas”, conclui esta ex-escuteira que adora saltar obstáculos e está satisfeita com a vida, pois ao longo da dúzia de anos que leva na A. Ferreira as vendas têm sido sempre a subir.

Cartão do cidadão

Família ”A melhor que podia ter”, graceja. Solteira, tem dois cães, o Migas (um cocker com 10 anos) e o Marley, um rafeiro raçado de cão de água que tirou da rua .
Formação Curso de Estilismo do Cenatex, acrescentado de especialização tecnológica de dois anos em Design de Moda; Licenciatura em Marketing (UMinho); Curso de auxiliar de Medicina Veterinária (Hospital Veterinário do Porto) .
Casa Moradia em Santo Estevão de Briteiros
Carro Toyota Corolla 
Portátil Asus Zenbook
Telemóvel iPhone 6 
Hóbis Viajar, concertos (em setembro vai ao U2), cinema, passeios na natureza, estar com a sobrinha e afilhada Maria Inês, que tem três anos.
Férias O ano passado andou pelo Alentejo (à volta de Évora) e o Portinho da Arrábida.
Regra de ouro  “Quando acredito numa coisa, sei que vou conseguir – se não der pela direita, vamos pela esquerda. Há sempre uma solução”.

Texto: Jornal T