A GeoJustiça é uma spin-off da Academia Minhota que se foca na prestação de serviços de grande qualificação técnica no que toca à recolha, ao tratamento e à interpretação de informação geográfica de apoio à resolução de conflitos judiciais e extra-judiciais. Esta spin-off procura ser “a referência nacional na prestação de serviços de informação geográfica de apoio à justiça e ser reconhecida pela renovação e modernização nos tribunais e nas práticas da advocacia”, segundo Carla Freitas, ex-aluna da UMinho e uma das impulsionadoras deste projecto. Assim, a Geojustiça debruça-se sobre a missão da disponibilização de conhecimentos rigorosos e científicos no âmbito da análise geo-espacial ao sistema judicial.
- Como surgiu a Geojustiça?
Carla Freitas: A ideia para o projeto Geojustiça nasceu da troca de impressões com familiares e amigos da área do Direito, nomeadamente sobre os potenciais contributos da informação geográfica na Justiça. Posteriormente, explorei este tema na minha tese de mestrado (A Geografia e o Direito: a informação geográfica ao serviço da justiça, defendida na Universidade Nova de Lisboa), dando-lhe continuidade no projeto de doutoramento que ainda mantenho em curso, na Universidade do Minho. O projeto empresarial surgiu após a frequência do IdeaLab e da possibilidade de trabalhar o plano de negócios nesse contexto. O 2.º prémio geral e o prémio de empreendedorismo feminino obtidos no SpinUM foram igualmente determinantes para avançarmos com a constituição da empresa.
- Qual o foco do trabalho da Geojustiça?
Carla Freitas: A Geojustiça teve inicialmente dois principais objetivos, em termos de oferta de serviços. Por um lado, desenvolver metodologias de trabalho inovadoras que contribuíssem para o aperfeiçoamento da investigação casuística em litígio. Por outro, contribuir para a diminuição do risco e da incerteza no processo decisório dos litígios relacionados com propriedade. Atualmente, para além desses serviços de consultoria, assessoria e peritagem, a Geojustiça também se tem centrado em soluções geográficas para o sector jurídico, apoiando a criação e o desenvolvimento de projetos inovadores.
- Quais os serviços já prestados pela empresa?
Carla Freitas: A GeoJustiça já participou em cerca de uma centena de litígios ligados à propriedade, por todo o país. O trabalho desenvolvido assentou na pesquisa de elementos de prova e na instrução de pareceres para privados, advogados, autarquias e tribunais. Desenvolveu o serviço FIREMAP em consórcio com outras três empresas ligadas às geociências, ao ordenamento do território e à informação geográfica. Trata-se de um serviço inovador de fotografia aérea, cartografia e interpretação através da utilização de VANT (veículos aéreos não tribulados). Para além disso, participou na criação do GEOPREDIAL, um serviço inovador da Câmara dos Solicitadores para a georreferenciação de imóveis. Neste momento, estamos a implementar a Academia Geojustiça, direcionada especialmente para profissionais da justiça que queiram fortalecer competências técnicas relacionadas com fenómenos espaciais, dotando-os das ferramentas necessárias para uma correta interpretação da informação.
- Quando falam em litígios, de que tipo de conflitos estão a falar concretamente?
Carla Freitas: Os serviços prestados pela Geojustiça procuram a descoberta e a fundamentação de elementos de prova em conflitos de direitos reais (de propriedade) e de direito administrativo (de limites territoriais). São, por exemplo, casos de limites de propriedades ou mesmo de freguesias ou concelhos, de natureza pública ou privada de caminhos, de servidões de passagem, de direitos sobre águas, poços e minas, de movimentos de terras, de alteração da linha de costa, de desvio de leitos de cursos de água, de servidões administrativas ou restrições de utilidade pública.
- Qual o papel da Universidade do Minho no surgimento e no desenvolvimento da Geojustiça?
Carla Freitas: A Universidade do Minho foi e continua a ser fundamental na Geojustiça. Primeiro porque a nossa formação em Geografia foi determinante para o projeto. Depois, porque através da Universidade fomos apoiados na avaliação do potencial da nossa ideia de negócio e da nossa vocação empreendedora. Para além disso, o estatuto de spin-off da Universidade do Minho é algo de que nos orgulhamos e que consideramos uma mais valia para a empresa.
- A Geojustiça tem algum projecto em curso ligado à Universidade do Minho?
Carla Freitas: Desde o início, a Geojustiça tem como como conselheiros os professores Miguel Bandeira e Mário Monte, das áreas da Geografia e do Direito, respetivamente. Em conjunto, iniciámos uma linha de investigação pioneira em Portugal, denominada de “Geography of Law”. Um dos resultados desta sinergia é o Dicionário Jurídico-Geográfico Ilustrado, a editar brevemente, e que beneficiou de financiamento comunitário. Temos igualmente colaboradores ligados a outros centros de investigação da Universidade do Minho, como as Ciências da Terra e a História.
- Como avaliam o ecossistema de inovação e empreendedorismo da Universidade do Minho? Como enquadram a Geojustiça neste ecossistema?
Carla Freitas: A Universidade do Minho tem uma diversidade considerável de programas que apoiam o empreendedorismo. É de destacar o papel da TecMinho, que oferece vários tipos de formação e organiza eventos para incentivar o espírito empreendedor, como são os casos do SpinUM e do IdeaLab. A possibilidade de instalação no Avepark e no Spinpark é também um apoio fundamental numa fase inicial das empresas. A Geojustiça enquadra-se perfeitamente neste ecossistema. Por um lado, aproveitando as oportunidades disponibilizadas pela universidade e, por outro, colaborando no apoio à promoção do empreendedorismo através da partilha de experiências.
- Quais as perspetivas de futuro para a Geojustiça?
Carla Freitas: A Geojustiça pretende ser a referência nacional na prestação de serviços de informação geográfica de apoio à justiça e ser reconhecida pela renovação e modernização nos tribunais e nas práticas da advocacia. Pretendemos ainda internacionalizar os nossos serviços, principalmente para os PALOP que adotaram o sistema jurídico português e para os quais existe muita informação geográfica produzida por instituições públicas portuguesas.
- O que representa ser uma Alumnus da UMinho?
Carla Freitas: Ser uma Alumnus da UMinho representa responsabilidade, oportunidade e motivação.
Carla Freitas
Percurso Académico
- Licenciatura em Geografia e Planeamento na Universidade do Minho
- Mestrado em Ciência e Sistemas de Informação Geográfica no ISEGI/ Universidade Nova de Lisboa com a dissertação “A Geografia e o Direito: a informação geográfica ao serviço da justiça”
- (a frequentar) Doutoramento na Universidade do Minho, onde realiza a investigação “A Geografia e o Direito: um contributo para a resolução de conflitos territoriais em Portugal”
Uma frase: “O homem que move montanhas começa por carregar pequenas pedras” (Provérbio Chinês)
Um momento: O nascimento das minhas filhas
Um livro: “O Principezinho” (Antoine de Saint-Exupéry)
Uma cidade: Paris
Um país: República das Maldivas
Domingos Silva
Percurso Académico
- Licenciatura em Geografia e Planeamento na Universidade do Minho
- Mestrado em Ciência e Sistemas de Informação Geográfica pelo ISEGI da Universidade Nova de Lisboa
Uma frase: “Fazer a audiência sofrer sempre o máximo possível” (Alfred Hitchcock)
Um momento: Entrada de Portugal na União Europeia
Um livro: “Matteo perdeu o emprego” (Gonçalo M. Tavares)
Uma cidade: Buenos Aires
Um país: Portugal
Pedro Pereira
Percurso Académico
- Licenciatura em Geografia e Planeamento na Universidade do Minho
- Doutoramento em Ciências da Terra na Universidade do Minho
Uma frase: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura” (ditado popular)
Um momento: A queda do muro (novembro de 1989)
Um livro: “Em busca do tempo perdido” (Marcel Proust)
Uma cidade: Paris
Um país: Portugal
* Artigo da rubrica Ecossistema de Inovação e Empreendedorismo da Newsletter Nós Alumni, desenvolvido em parceria com a TecMinho