Fez parte das primeiras turmas da UMinho. Recorda-se como correu o seu primeiro dia?
Foi um momento bastante sereno. Já tinha andado na Universidade de Coimbra, onde fiz três anos de Engenharia Química, e no Instituto Superior Técnico de Lisboa, onde frequentei o 4º ano. Entretanto, casei. Era uma excelente aluna a Matemática. Quando regressei a Braga, ainda a Universidade do Minho não tinha aberto, convidaram-me para dar aulas na Escola Secundária de Sá de Miranda. Não hesitei nem um segundo. Tinha 23 anos. Comecei a dar aulas sem formação em docência. Em 1975, decidi, incentivada pelos colegas mais velhos, inscrever-me no bacharelato em Formação de Professores de Matemática da UMinho.
 
Era o primeiro ano de aulas desta nova “universidade”.
Exatamente! Fiquei com o número mecanográfico 22 e a minha irmã mais nova com o nº 21. A realidade nada tinha a ver com a Universidade de Coimbra. O ambiente era mais fechado e tinha pouca gente. A turma teria cerca de 20 estudantes. Eu conhecia a maioria. Eram quase todos de Braga, alguns vinham de Fafe e outros de Guimarães. Erámos tão poucos que até tínhamos aulas no Salão Medieval da Reitoria. Também chegamos a ter aulas na rua D. Pedro V. Um dia apareceu lá o professor Sérgio Machado dos Santos, que foi reitor anos depois, para nos dar um sermão por termos copiado num teste de Informática. Foi uma vergonha, não sabíamos onde nos meter [risos]! Ele era simpatiquíssimo.

De que momentos da vida académica sente mais saudades?
Além de estudar, dava aulas e imensas explicações. Recordo-me de estar a almoçar e de a minha cunhada me meter bolinhas de papel na boca sem eu dar conta. A minha vida era muito agitada. Por isso, tinha zero vida académica. Tinha um grupinho com quem estudava e trocava apontamentos. E era só isso. Em 1977 nasceu-me o terceiro filho e adiei o curso para o ano seguinte.
 
Depois do bacharelato concluído, regressou na década de 1990 para fazer a licenciatura em Matemática…
Exatamente. Aos 43 anos resolvi pedir o reingresso ao perceber que o grau de licenciado era muito mais vantajoso em termos de escalão. Os meus colegas de curso eram mais novos do que eu, alguns tinham sido meus alunos. Adorava estudar, era viciada [risos]! Até definia horários de estudo. Na altura, tive uns problemas por causa do processo de equivalências. Até envolvi o Provedor de Justiça para ajudar na resolução. Fiz Álgebra I e II pela terceira vez. Parecia gozo miudinho. Já era mãe de cinco filhos. Sempre fui muito corajosa. Lembro-me de dar explicações com o meu Guilherme, de dois meses, no colo. Estupidamente, trabalhei demais!
 
“Adorava estudar, era viciada”
 
Arrepende-se?
Não, porque gostava [risos]. Ainda hoje, quando não consigo adormecer, começo a fazer primitivas e derivadas ao contrário. Ainda dei explicações depois de me aposentar, aos 60 anos, mas agora com a “netada” não dá. Tudo tem o seu tempo, mas tenho saudades. As minhas preocupações são agora outras. Por exemplo, à quarta-feira faço o almoço para onze pessoas, entre filhos, noras, genros e netos.
 
Como era a sua relação com os alunos?
Muito boa! Era muito para a “frentex” para a época. Sou bem-disposta por natureza, adorava dar aulas e gostava imenso dos alunos. Fazia questão de aprender o nome de todos em dois dias. Fui professora do Guilherme [Pereira, pró-reitor da UMinho], do [António] Cunha [ex-reitor da UMinho], do [António] Almeida Dias [presidente da CESPU], entre outros. “Deram todos gente” naquela altura. Nunca dei 20 valores a ninguém. Cheguei a dar 19 a três ou quatro alunos, um deles foi ao Guilherme.
 
Os seus cinco filhos estudaram cá?
Todos. O Miguel estudou Sociologia e trabalha na Câmara Municipal de Braga. A Ana, agora com 50 anos, fez a licenciatura em Matemática. O terceiro formou-se em Comunicação Social e é jornalista na Agência Lusa. A Maria Emília é fisioterapeuta, mas fez cá o mestrado em Engenharia Humana. O meu caçulo chama-se José Rafael, está a terminar o doutoramento em História - Idade Contemporânea e é um aluno brilhante e muito estudioso. Os outros eram mais preguiçosos, apesar de inteligentes. Gostavam mais da farra [risos]. Não consegui juntá-los hoje para a entrevista. Fica para a próxima!
 
O seu neto mais velho está no 11º ano. Será que vai seguir as pisadas da avó e do pai?
Vamos ver [risos]. O Manuel escolheu a vertente de Economia. Está com uma média de 19 valores e tem excelentes notas a Matemática.
 
Alguma vez imaginou que a UMinho se tornaria o que é hoje? É motivo de orgulho?
Muito! Nunca imaginei que crescesse tanto!
 
Que dicas daria aos jovens que estão prestes a ingressar no mercado de trabalho?
Que sejam felizes naquilo que fazem!