Pedro Arezes licenciou-se em Engenharia Industrial na Universidade do Minho, onde também fez o mestrado e o doutoramento em Ergonomia. É diretor do Laboratório de Ergonomia da UMinho desde 2003 e investigador do Centro Algoritmi, onde coordena o grupo de Ergonomia e Fatores Humanos. Em 2013 tornou-se professor catedrático e, no ano seguinte, partiu para o Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT), nos EUA, para desenvolver investigação ao abrigo da parceria MIT-Portugal. Esse foi o início de uma ligação que se foi reforçando nos anos seguintes quando passou a integrar a comissão diretiva do programa doutoral Líderes para as Indústrias Tecnológicas. Durante a conferência anual do programa, que assinalou os dez anos da iniciativa​ e decorreu em Braga no passado dia 30 de junho, foi anunciada a sua nomeação​ como o novo diretor do Programa.

O MIT Portugal é uma parceria entre cinco universidades portuguesas - Lisboa, Nova de Lisboa, Coimbra, Porto e Minho - o MIT, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia e empresas. Foi criado em 2006 com o objetivo de fortalecer a base de conhecimento do país, o empreendedorismo de origem científica e a competitividade internacional, através de investimentos estratégicos em pessoas, conhecimentos e ideias inovadoras. Neste âmbito, já ingressaram nas academias nacionais 958 alunos, foram criadas mais de 85 start-ups e financiados projetos focados no desenvolvimento sustentável em ligação com a indústria.

Fez investigação ao abrigo da parceria MIT-Portugal nos EUA. Que relevância teve no seu percurso esta investigação?

Em 2013 planeava a minha ida para o estrangeiro para usufruir de uma licença sabática. A opção nessa altura era ficar pela Europa, concretamente em Zurique, na ETH Zurich. Contudo, em finais de 2013 recebi uma proposta para uma estadia em Boston, no MIT. Depois de alterar todos os planos, consegui resolver as questões burocráticas associadas à estadia nos EUA e tive ainda a felicidade de receber um convite de um grupo da Universidade de Harvard para trabalhar num projeto ligado à ergonomia no design de interfaces.

Embora nessa altura já tivesse um percurso consolidado como professor, a minha decisão de ir para Boston foi um passo fulcral no desenvolvimento mais recente do meu percurso. Não só pela experiência fantástica de trabalhar em ambientes tão “inspiradores”, como são os do MIT e Harvard, mas sobretudo porque me permitiu trabalhar com fantásticas equipas multidisciplinares com investigadores de várias nacionalidades. Para além dos resultados da investigação associados a esta estadia, julgo que o contributo mais relevante para o meu percurso foi o de conhecer as pessoas que conheci e de poder trabalhar com métodos, equipamentos e rotinas aos quais não estava habituado e que me obrigaram a sair da habitual zona de conforto.​

O que é que representa para si ser hoje o coordenador deste Programa?

De forma muito breve, e num registo pessoal, é uma enorme honra, a qual tem associada também uma grande responsabilidade. Entendo que a minha nomeação, a qual foi unanimemente aprovada pelos membros da estrutura de governação do programa, é também um reconhecimento do meu trabalho e empenho para o sucesso deste programa.

No plano institucional, e sendo docente da UMinho, entendo que esta nomeação é também um reconhecimento do papel e centralidade da UMinho nesta parceria. Sendo a primeira vez que a UMinho coordena uma das parcerias internacionais estabelecidas entre o governo e os EUA, é também um sinal importante no reconhecimento da UMinho.

PA2.jpgFotografia de Nuno Gonçalves 

O MIT-Portugal foi implementado há dez anos. Na sua opinião que contributo deu ao país?

O impacto do Programa é uma das questões que a coordenação está a trabalhar, agora que termina a segunda fase do programa (em dezembro de 2017). Por isso, este é um tema que nos é muito próximo e o qual estamos a tentar tratar com o maior empenho e abrangência.

De forma breve, e obrigatoriamente simplificada, poderei dizer que os contributos são de várias ordens, sendo que é mais fácil referir aqueles que são quantificáveis. Apesar disso, há um leque alargado de contributos intangíveis que são muito importantes mas que não podem ser (ou pelo menos diretamente) expressos em números. A título de exemplo refiro a criação de programas doutorais que já atraíram mais de 3000 alunos (cerca 50% deles do estrangeiro), o estabelecimento de investigação conjunta com o MIT, através do qual tivemos cerca de 250 alunos e investigadores no MIT, a criação de mais de 25 empresas por alunos e professores, e o apoio financeiro a cerca de 20 projetos de investigação, os quais envolvem várias empresas que co-financiaram os projetos. Não me posso esquecer de referir alguns outros indicadores de impacto que não são tão facilmente quantificados, como por exemplo o facto de permitir que 5 universidades portuguesas possam desenvolver investigação conjunta com uma das mais importantes e reconhecidas universidades a nível mundial, criando áreas de investigação novas e emergentes e reforçando a qualidade científica das instituições.

Quais são os principais projetos para o período em que o MIT-Portugal está sob a sua coordenação?

Como já referi, o Programa está no término da segunda fase, pelo que agora há um foco grande na conclusão das atividades da segunda fase, como o lançamento de projetos de investigação, num valor aproximado de 2 milhões de euros, bem como na avaliação do impacto do Programa. Os objetivos seguintes serão já centrados no desenvolvimento de uma proposta para a continuidade do programa, ou seja, para o desenho de uma 3ª fase do programa.

Em que medida a participação do tecido industrial e empresarial no programa foi uma mais-valia?

A participação de empresas é um aspeto central do Programa, mas esta depende muito das áreas em concreto. Em algumas das áreas do programa, sobretudo naquelas com uma maior componente de aplicação industrial, a grande parte dos projetos de investigação e de doutoramento são desenvolvidos em estreita colaboração com as empresas, sendo focados na resolução dos seus problemas de cariz tecnológico ou, ainda, na gestão otimizada dos seus processos de fabrico e de gestão.

Em particular, qual foi e é o impacto do programa para a UMinho?

A UMinho, tal como as restantes 4 universidades envolvidas no Programa, pode beneficiar desta posição privilegiada de estar entre as instituições selecionadas para esta parceria. A participação da UMinho dá-se através de duas (das quatro) áreas temáticas do Programa. Destacaria o facto de este programa ter permitido que um número alargado de alunos e docentes pudessem ter a experiência de colaborar com o MIT. Desta colaboração resultaram vários projetos de investigação, bem como iniciativas de empreendedorismo que, não estando enquadradas no Programa, são também um resultado direto do mesmo.​

ergonomia.jpg  Grupo de Ergonomia e Fatores Humanos do Centro Algoritmi , coordenado por Pedro Arezes 

O seu percurso académico foi todo feito na UMinho. Porquê a opção única por esta academia? 

A opção por seguir a formação sempre na mesma instituição tem sido uma prática recorrente nas universidades portuguesas nos últimos anos. As instituições mais recentes, como a UMinho, fizeram um grande esforço inicial de formação do seu pessoal docente, o qual passou, numa primeira fase e dependendo da área, por formar os seus docentes no estrangeiro. Nos anos 90, e com vários docentes já doutorados, a UMinho começou a apostar na formação “interna” dos seus docentes, tendo eu sido um desses casos. Ao contrário dos EUA, na Europa um percurso académico dentro da mesma instituição é uma prática habitual e não encarada como sendo menos prestigiante. Apesar de ter realizado o mestrado e doutoramento na UMinho, a investigação que desenvolvi ao longo destes anos foi quase sempre feita em rede, com colegas de países um pouco por todo o mundo.​

O que significa para si ser alumnus desta instituição?

Temo não ser muito original na minha resposta, mas a verdade é que acho que o sentimento geral de quem passa pela UMinho é que esta é uma instituição moderna, dinâmica e de excelência, que se afirmou de forma clara pela qualidade das suas apostas, as quais beneficiaram muito da visão de quem comandou a instituição ao longo da sua existência.  Tenho, por isso, grande orgulho poder em poder indicar a UMinho como a minha Alma Mater.

Uma “fatia” do meu orgulho na UMinho deriva do simbolismo que esta tem sobre a dinâmica da região. Sendo minhoto, natural de Barcelos e vimaranense por “adoção”, sinto a UMinho como um dos mais fortes sinais do valor desta região e do seu forte dinamismo.

Fotografia de capa de Nuno Gonçalves.