​​A Ecofoot é uma spin-off da UMinho, responsável por uma inovadora tecnologia de tingimento, que permite colorir fibras celulósicas, de forma ambientalmente mais sustentável. Fundada em 2012, por Jaime Rocha Gomes, Professor Catedrático da UMinho, está instalada no AvePark, Parque de Ciência e Tecnologia. A Ecofoot conta, atualmente, com uma equipa de quatro engenheiros, entre eles Sandra Sampaio, uma alumni da UMinho, formada na área têxtil, e também ela co-fundadora da Ecofoot. A par deste setor, é através da moda e da tinturaria digital que a Ecofoot espera entrar no mercado, já no próximo ano.

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Jaime Rocha Gomes (ao centro) é fundador e CEO da empresa. Chegou à UMinho em 1976, depois de ter estudado Química Têxtil na Universidade de Leeds, em Inglaterra. Na instituição minhota doutorou-se em Química de Corantes. Atualmente é Professor Catedrático no Departamento de Engenharia Têxtil da EEUM.

Pedro Gomes (Engenheiro Têxtil) – Product Officer
Sandra Sampaio (Engenheira Têxtil) – responsável pelo Departamento de Investigação e Desenvolvimento
Cátia Ferreira (Engenheira Têxtil) - responsável pelo Laboratório
Adriana Duarte (Engenheira Química) – Chief Product Officer
 
1.      Como surgiu a Ecofoot?
 
Jaime Rocha Gomes: A Ecofoot surge na sequência de outra spin-off da UMinho, a Micropólis, que tinha sido vendida … Como tinha sido uma experiência positiva, quisemos repeti-la, mas com um novo produto, as nano partículas coloridas. Portanto, em 2008, eu e outro investigador percebemos que a Ecofoot tinha algum potencial, embora ainda não tivesse muita intensidade … Mas, nós conseguíamos, de facto, produzir as partículas coloridas. Ou seja, conseguíamos transformar um corante num pigmento. Então, começamos a pensar em formas de melhor o nosso produto, nomeadamente, no têxtil, onde havia um grande potencial em termos ecológicos … Entretanto, o investigador que estava a colaborar comigo saiu … Foi substituído pela Sandra, que estudou Engenharia Têxtil na UMinho. Em 2011, recebemos o prémio BES Inovação, que nos deu um incentivo muito grande, e uma certa notoriedade … E, esse foi um dos motivos que nos levou a constituir a empresa, em 2012. Mais tarde, e ocasionalmente, eu cruzei-me com um técnico da TecMinho, que me falou de um investidor do AvePark, que estava interessado em investir num projeto nesta área … E, num simples almoço, conseguimos assegurar esse investimento. Atualmente, esse investidor faz parte do conselho de administração. Passado um ano, o BES, através de um fundo da ES Ventures, também investe na Ecofoot, de maneira que tivemos o apoio destes dois investidores.
 
2.      Dois anos depois da constituição da empresa, considera que as expectativas iniciais foram superadas?
 
JRG: Não … Vejamos, o tempo de vida de uma spin-off até se consolidar como empresa, normalmente, são cinco anos, e a nossa ainda só tem dois. Além disso, eu julgo que em Portugal ainda não há uma visão avançada do empreendedorismo, como existe, por exemplo, nos EUA e na Inglaterra, onde o investimento em startups é muito maior, já há muitos anos … No nosso caso, precisamos de, pelo menos, mais um ano, para reunirmos condições que nos permitam entrar no mercado. Estamos quase prontos …
 
3.      Que tipo de tecnologia é desenvolvida pela EcoFoot?
 
Sandra Sampaio: Aqui usamos nano partículas para tingir corantes, já existentes.
 
4.      Quais os aspetos que tornam o vosso trabalho diferenciador?
 
SS: A Ecofoot diferencia-se, essencialmente, a nível ecológico. Uma vez que a indústria têxtil é das mais poluentes, a nível nacional e mundial, a nossa preocupação foi encontrar técnicas de tingimento mais ecológicas … Então, desenvolvemos um processo de tingimento que consome menos água e menos energia. É um processo único no mercado, mais eficiente e mais ecológico.
 
5.      São estes os fatores de sucesso da vossa empresa?
 
JRG: São fatores de sucesso para o futuro … Porque, aqui em Portugal, as empresas não dão muita importância aos gastos de energia … Falam, mas não fazem as contas. Mas, internacionalmente, há uma movimentação muito grande, na área da sustentabilidade, em termos ecológicos, e não meramente económicos … Embora, também, haja muito marketing, por trás disso, é verdade … As empresas tornam-se mais ecológicas, também, para defenderem a sua imagem.
 
6.      Têm procurado dialogar com as indústrias têxteis da região?
 
JRG: Eu tenho poucos exemplos locais. Aqui na região, contactamos apenas umas três ou quatro empresas …
 
7.      E isso deve-se a quê?
 
JRG: Na verdade, nós estamos mais preocupados em fazer com que o processo seja reprodutível e atinja a qualidade necessária, porque ninguém compra o nosso produto se ele não atingir uma certa qualidade. E, embora os nossos corantes sejam mais ecológicos, as empresas têxteis valorizam mais a questão da qualidade. Ou seja, querem o melhor dos dois mundos, e isso é muito difícil de se conseguir. Aliás, as grandes multinacionais, ainda não o conseguiram … Por isso, nós temos apostado mais na moda, que não é tanto exigente nesta questão da qualidade. E é uma das áreas onde a nossa tecnologia pode ter, realmente, muito potencial. Mas, nesta fase nós estamos a descobrir os setores onde nos podemos posicionar e entrar com mais facilidade … Ao mesmo tempo, estamos a tentar chegar a uma qualidade mínima no nosso processo de tingimento ecológico. E só quando o conseguirmos é que vamos vender o produto. Por isso é que nesta fase só vamos a empresas da nossa confiança, que sabem que isto é um processo novo, e que estão mais sensíveis às nossas dificuldades e limitações. Mas sabem que isto tem um potencial enorme, que permite poupar energia e água, onde a poupança pode ser de 70% …
 
8.      E esta poupança não atrai as empresas?
 
SS: As empresas estão habituadas a contabilizar os gastos iniciais, e o nosso produto é mais caro … No entanto, com este processo, é possível poupar muitos recursos, o que faz com a despesa final seja menor. Mas, as empresas ainda não estão habituadas a fazer este tipo de cálculo … A recetividade do nosso produto está dependente de uma mudança de mentalidade das empresas, o que é muito difícil.
 
9.      Sendo a Ecofoot uma spin-off da UMinho, que importância tem tido a universidade no desenvolvimento do projeto?
 
JRG: Sem a universidade eu nunca poderia ter esta empresa! Na UMinho nós encontramos apoios essenciais, ao nível da investigação, através das pessoas com quem nos cruzamos, e também dos equipamentos, através do acesso aos laboratórios. Usamos aquilo que a universidade nos pode ceder … Até porque seria muito difícil uma empresa apostar neste tipo de projeto, ainda em fase de testes … Além disso, usamos o gabinete de Transferência de Tecnologia da TecMinho, com quem temos uma boa relação. E, ainda, o Gabinete de Patentes da universidade. Portanto, estamos constantemente em diálogo com a TecMinho e com a universidade.
 
10.  Como é que avalia a evolução da UMinho, na área da investigação?
 
JRG: Em Portugal, a investigação está limitada pela falta de apoios … Existe uma discrepância enorme entre o país que temos e a investigação que fazemos. Por isso, eu olho para esta questão da investigação académica com alguma preocupação … Mas acho fundamental que a UMinho se assuma como uma universidade de investigação e que toda a gente trabalhe nesse sentido …
 
11.  Quais as expectativas para o futuro?
 
SS: O nosso principal objetivo é entrar no mercado, de maneira, a vermos o nosso pequeno sonho implementado … Além do têxtil e da moda, estamos agora a investir nas tintas para cabelo, no setor das madeiras e na tinturaria digital, porque é nestas áreas que o nosso produto pode gerar mais-valias.
 

* Artigo da rubrica Ecossistema de Inovação e Empreendedorismo da Newsletter Nós Alumni, desenvolvido em parceria com a TecMinho ​​

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