​​Licenciada em Criminologia pelo ISMAI e mestre em Crime, Diferença e Desigualdade pela UMinho, Laura Lamosa Jota, de 23 anos, é promotora de um projeto pioneiro em Portugal, no que diz respeito à georreferenciação da pequena criminalidade local. A ideia surgiu aquando da investigação para a tese de mestrado. Mas, em poucos meses, aquele que seria apenas um projeto académico acabou por se tornar uma ideia de negócio. Visivelmente entusiasmada com aqueles que considera terem sido "os melhores anos" da sua vida, Laura Jota admite que o caminho teria sido bem diferente se a UMinho não tivesse feito parte das suas escolhas.

 

Quando decidiu que queria ser criminóloga? E como surgiu o seu interesse pela área?

O meu interesse pela criminologia surgiu na infância. Nessa altura eu não sabia que queria ser criminóloga, até porque o curso ainda não existia. Mas, já me interessava muito pelo crime. Eu não tinha medo, mas tinha interesse pela área … Depois, no 12º ano, quando vi o programa curricular de Criminologia, fiquei muito interessada, e acabei por optar por esta área. Claro que tive muitas dúvidas, sobretudo pelo facto de ser um curso novo … Mas, hoje, percebo que, apesar de arriscada, foi uma decisão acertada.

Ainda antes de apostar na área empresarial, decide fazer mestrado, em Crime, Diferença e Desigualdade, na UMinho. A que se deve esta decisão?

Quando acabei a licenciatura, senti a necessidade de continuar a investir na minha formação académica, porque não me sentia totalmente formada. Queria aprender mais e apostar na investigação, que é uma área imprescindível à criminologia. E, depois de um pequeno estudo do mercado, percebi que o mestrado em Crime, Diferença e Desigualdade na UMinho poderia ser uma boa aposta … Era um mestrado pioneiro no país, complementava bem a minha licenciatura e ia ao encontro de áreas que me interessam – a criminologia e a sociologia. Além disso, era lecionado na UMinho, uma universidade com muito prestígio.

Como surgiu, então, o MapsCrime?

A ideia surgiu há um ano e meio, quando estava a pensar num tema para a tese de mestrado. Nessa altura, eu sabia que queria estudar o crime, mas não sabia que tipo de crime estudar. Então, depois de alguma investigação, decidi estudar o crime que lidera as tabelas nacionais – os assaltos. Ou seja, optei pela pequena criminalidade. Depois, fiz uma pequena investigação internacional, no sentido de perceber quais os programas e serviços que poderiam ser implementados em Portugal para combater e prevenir a pequena criminalidade … Foi aí que me lembrei da georreferenciação criminal. E, depois de uma pesquisa, percebi que este método já era usado noutros países, como nos EUA. E isto é mesmo verdade! Primeiro, eu lembrei-me da georreferenciação criminal, e só depois de pesquisar é percebi que já existia … Mas isso deu-me alento. De certa maneira, corrobora a eficácia do projeto.

Quais as finalidades do MapsCrime?

Um dos principais objetivos do projeto é combater as cifras negras [termo da criminologia que indica que a criminalidade conhecida não é igual à criminalidade real], ou seja, os crimes não denunciados, ao facilitar o registo das ocorrências criminais, no site. E isto pode ser uma mais-valia para os cidadãos e para as autoridades. Com o MapsCrime, podemos combater a lacuna entre os crimes reais e os crimes denunciados, que não são tidos em conta nem são estudados. Para além disto, o projeto também elucida as pessoas para o crime, através de conselhos práticos de autoproteção criminal.

A avaliar pelo nome do projeto – MapsCrime – parece que o objetivo é criar um mapa do crime. Em que consiste realmente esta ideia?

Na verdade, é um mapa do crime, porque permite o registo e acesso às ocorrências criminais. Para já, apenas de roubo e de furto. Talvez inclua outros tipos de crime, mais tarde … Mas, nesta fase achei que o melhor seria apostar no tipo de crime que investiguei e em que, realmente, sou especialista – a pequena criminalidade. E, através dessa partilha de dados, o projeto dá a possibilidade da autoproteção criminal, que ajuda a potencial vítima a aumentar a sua proteção. Além disso, também publico dicas e conselhos de segurança, partilhados pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que é parceira deste projeto, desde o início.

Quando é que se apercebe que o MapsCrime, mais do que um projeto de investigação, poderia ser um negócio?

Quando comecei a desenvolver a ideia do MapsCrime não tinha qualquer intenção de ganhar dinheiro através dele. Nem tinha qualquer ideia de negócio … Isso estava longe dos meus planos. Mas, no IdeaLab – Laboratório de Ideias de Negócio da TecMinho – mostraram-me que isso podia ser possível. Ajudaram-me a perceber em que áreas é que a minha ideia poderia ter valor e o meu projeto se poderia tornar rentável … Então, comecei a trabalhar nesse sentido e a desenvolver o meu modelo de negócio.

Que feedback tem tido dos utilizadores?

O feedback tem sido positivo, tanto da parte da comunidade como dos profissionais da área, por exemplo, os polícias. De facto, há muitas pessoas a elogiar a iniciativa … Na altura do lançamento do projeto (em julho), fui "bombardeada" por mensagens, no Facebook a felicitar a ideia … Foi o caso do subcomissário da PSP, da Policia Marítima, da Associação Sindical dos Guardas Noturnos, entre outros... Além disso, conheço casos de pessoas que já beneficiaram com o projeto, e que partilham comigo as suas histórias. E esta interação é muito positiva. Uma vez que o projeto é pioneiro em Portugal, é muito importante conhecermos as opiniões e sugestões das pessoas, para podermos melhorar.

Quais os crimes mais registados?

Os mais registados são o de furto a veículo. Estes dados vão ao encontro das estatísticas oficias … Isto prova que as pessoas partilham dados válidos, o que contribui para a credibilidade do projeto.

Que diálogo procurou estabelecer com as autoridades locais?

Inicialmente, quando tive a ideia, decidi apresentá-la ao Ministério da Administração Interna, para perceber a recetividade dos governantes em colaborar com o projeto. Até porque fazia todo o sentido que os órgãos de proteção criminal participassem no MapsCrime. E então, na altura, reuni com o secretário de Estado … A conversa correu muito bem, ele gostou muito da ideia. Mas o processo de validação é muito burocrático e demorado. O tempo foi passando … E, como não recebi qualquer resposta, decidi avançar sozinha … Acabei por enveredar pelo empreendedorismo, através do IdeaLab da TecMinho.

A nível empresarial, o que espera do MapsCrime?

O nosso objetivo, neste momento, é conquistar o maior número possível de utilizadores para que, realmente, o MapsCrime passe de um projeto pioneiro para um projeto de negócio, e para conseguirmos constituir empresa. Mas este é um processo faseado … E, eu não quero, de maneira nenhuma, avançar etapas, para chegar mais longe, mais depressa. A evolução do MapsCrime vai depender da adesão dos utilizadores, das parecerias que, entretanto, possam surgir, entre outros aspetos a ponderar …

A poucos dias de defender a sua tese de mestrado, precisamente com o projeto MapsCrime, como avalia a sua passagem pela UMinho?

Gostei muito de estudar na UMinho e, particularmente, no ICS. Tive oportunidade de conhecer e de trabalhar diretamente com muitos dos autores de referência, que já tinha estudado, e que aqui se tornaram meus professores. Por outro lado, nesta universidade tive conhecimento da TecMinho, que me lançou no mundo empresarial … A UMinho deu-me oportunidades a nível académico e empresarial que, certamente, não teria numa outra universidade. Aqui eu não fiz só uma tese de mestrado, eu não me tornei apenas uma mestre em Criminologia, também obtive uma pós-graduação em gestão e empreendedorismo. E, sinto, mesmo, que estes foram os melhores anos da minha vida! Foram muito dinâmicos e produtivos … Consegui criar o MapsCrime, que me deixa muito orgulhosa. Orgulho-me muito de ter estudado na UMinho. É uma universidade onde os estudantes podem encontrar todos os apoios para investir na sua carreira e nos seus projetos. A UMinho deu-me competências e apoios que permitiram validar a minha ideia, ajudou-me a desenvolver o projeto, e deu-me a conhecer o mundo empresarial. Por isso, não posso estar mais satisfeita.


* Artigo da rubrica Ecossistema de Inovação e Empreendedorismo da Newsletter Nós Alumni, desenvolvido em parceria com a TecMinho ​​

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