Licenciado em Biologia e Geologia pela Universidade do Minho, Rui Duarte encontrou na fotografia uma escapatória para não ficar preso entre paredes. Conjugando as diferentes áreas, esteve entre julho e setembro na Islândia a trabalhar como guia da natureza e vida selvagem e na mala trouxe belíssimas fotografias de baleias.

A fotografia apareceu a Rui Duarte no último ano da faculdade quando estava “desmotivado com o curso”, que o parecia condenar a “rato de laboratório”. “Não escolhi o curso para ficar preso num único espaço”, aponta jovem da freguesia de Rio Covo Santa Eugénia.

Praticante de judo, tinha um professor daquela modalidade, Nuno Gonçalves, que “já fotograva há bastante tempo” e, por causa dessa atividade, fazia viagens. E na cabeça de Rui Duarte fez-se um clique: “Se eu conseguir conciliar os dois mundos, talvez tenha aqui um bom passaporte para ir além-fronteiras. Comecei a estudar essa arte [fotografia] e adorei”.

Autodidata, o jovem barcelense, também treinador de judo, devorou tutoriais e livros de mestres da fotografia e aproveita as oportunidades em estâncias de turismo para registar a natureza e vida animal.

Neste caso, a proposta surgiu em fevereiro, mas a pandemia colocou tudo em causa, porque não havia turistas. “Chegaram a mandar-me mensagem: estamos sem turistas, portanto vais ter que aguardar para o próximo ano. Fiquei muito desmotivado”, conta o barcelense. Mas, entretanto, como a Islândia era considerado um país seguro, a afluência de turistas aumentou e Rui Duarte foi chamado. “No final de julho fizeram-me a proposta para ir, fiz as malas e mandei-me”.
 
Ficou em Husavik até inícios de setembro, quando o país voltou a endurecer as medidas contra a propagação da covid-19, com a imposição de quarentena obrigatória para quem chegasse ao país, o que afastou os turistas e provocou um “acentuado decréscimo das viagens”. “No turista, no party”, graceja.

Como guia de natureza e vida selvagem, Rui Duarte acompanha os turistas, garante que todos cumprem as normas de segurança e dá informação sobre os animais. Leva sempre a máquina consigo no barco.

“As baleias tornam-se previsíveis, porque vêm à superfície, respiram e vão lá abaixo comer. Quando elas vão lá abaixo para comer, partilho informação com os turistas, quando estão cá em cima deixámo-los usufruir do momento para fotografarem e filmarem”, conta. E é nesse momento que também ele aproveita para disparar.
 
A baía de Skaljfandi, com 15 km de diâmetro e oito milhas náuticas, é “impecável para as baleias se alimentarem”, pelo que não é preciso afastar-se muito da costa para as encontrar. As baleias impressionam “pelo tamanho, pela beleza, pelo respirar, que é mesmo estrondoso”, aponta Rui Duarte, que também gosta de fotografar golfinhos (“mas são mais difíceis, são muito rápidos”).

“Cria-se ali uma conexão muito intensa, é isso que tento captar em cada frame para dentro da câmara”, refere o jovem de Barcelos, adiantando que está em contactos com “algumas entidades” para tentar dar uma forma física às fotografias que captou na Islândia e também a enviá-las para “várias plataformas online” para as divulgar.
 
Os planos futuros passam por acompanhar as baleias nas áreas de reprodução nos trópicos, “para ver as diferenças de comportamentos e também aprender um bocado mais sobre os rituais de acasalamento”. “Estas zonas frias são as áreas de alimentação. As baleias no final do outono, início de inverno, começam a migrar para os trópicos, onde as águas são mais quentes”, assinala. Assim, Cidade do México, Baja Califórnia, Havai, Cabo Verde ou República Dominicana são destinos ambicionados. É preciso a covid-19 deixar.
 
Esta não foi a primeira aventura em mar de Rui Duarte. O jovem de 26 anos em 2018 acompanhou a safra do atum nos açores. “Foi o ponto de partida, o primeiro trabalho a sério. Era um bocado diferente, porque não era lidar com clientes, era lidar com trabalhadores, pescadores, mas funcionou tudo bem”, considera o barcelense que, desde o último ano de universidade, em 2015, não larga a máquina fotográfica.

No ano passado, esteve numa empresa de observação de baleias e golfinhos em Sagres, que também lhe proporcionou um “bom portfólio” e acabou por funcionar como rampa de lançamento para a Islândia.

Notícia: O Minho