O Centro de Investigação em Estudos da Criança da Universidade do Minho (CIEC) está a desenvolver livros interativos gratuitos para promover o multiculturalismo entre os mais novos. O projeto chama-se “Mobeybou”, acrónimo de “Moving Beyond Boundaries: Designing Narrative Learning in the Digital Era”, é coordenado por Cristina Sylla e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pelo FEDER. O trabalho tem ainda outras facetas, como o desenvolvimento de um manipulativo digital, que usa peças físicas para explorar conteúdos digitais de storytelling. Estão em desenvolvimento também uma aplicação em realidade aumentada e uma versão digital para Android e iOS para uma utilização mais alargada. Exceto os blocos físicos, todas as aplicações Mobeybou são gratuitas.

O primeiro livro interativo (story app) já foi lançado e chama-se “Mobeybou na Índia”. Conta as aventuras de Meera e Rajesh, que vão construir um pungi (flauta indiana), viajar com o elefante Hati, explorar a floresta, recolher notas musicais e enfrentar a grande serpente Kalaya com música e dança. Nesta história interativa pode-se usar ainda realidade aumentada, explorar uma floresta a 360º, aprender sobre a India, inventar músicas e criar a própria gravação da narrativa. Esta app está em português e inglês, é indicada a partir dos 3 anos de idade e pode ser descarregada na Play Store. A equipa do CIEC prepara agora, em www.mobeybou.com, aventuras localizadas em Cabo Verde, Brasil, China, Portugal, Alemanha, Turquia e Angola.

Os materiais Mobeybou pretendem promover o desenvolvimento de competências narrativas e digitais, assim como o multiculturalismo em crianças do ensino pré-escolar e do 1º ciclo do ensino básico”, frisa Cristina Sylla. Deste modo, o projeto quer contribuir para a construção de respostas aos desafios colocados à educação pela revolução digital e pelas atuais sociedades multiculturais e superdiversas”, acrescenta. Para tal, foi desenvolvido um kit por país, com dois protagonistas e um animal amigo, um antagonista, um objeto mágico, um instrumento musical e um cenário. Por exemplo, o animal amigo no Brasil é o papa-formigas e na China é o panda.

Cada elemento da narrativa está associado a um bloco físico, identificado com um autocolante com a respetiva representação visual na face superior. Os blocos comunicam com o computador ou tablet viaBluetooth e, ao serem conectados uns aos outros, através de ímanes laterais, despoletam os respetivos conteúdos digitais no ecrã do computador ou tablet. Todos os blocos das diferentes culturas podem ser misturados, promovendo a criação colaborativa de narrativas multiculturais. “Toda a caracterização e escolha dos elementos de um kit cultural baseia-se numa investigação aprofundada sobre a cultura representada, assim como entrevistas a pessoas oriundas dos países representados, tentando evitar clichés”, nota Cristina Sylla. O projeto tem uma equipa multidisciplinar, juntando competências da Eletrónica, Informática, Design de Interação, Animação, Ilustração, Linguística e Psicologia.

Os story apps pretendem completar o foco principal do projeto “Mobeybou”, que são os blocos de madeira interativos. Este trabalho da investigadora do CIEC iniciou-se com o seu doutoramento e tem vindo a desenvolver-se desde então. Cristina Sylla, em conjunto com colegas da UMinho, já obteve vários prémios científicos na área dos materiais híbridos, entre eles o “World Technology Awards” (EUA, 2013) e nas conferências internacionais “Advances in Computer Entertainment Technology” (Malásia, 2015; Holanda, 2013; Nepal, 2012).