​Lembra-se dos champôs dois em um? Agora, os têxteis também estão a trabalhar assim para podermos vestir a mesma camisola de verão e de inverno ou hidratar a pele sem usar creme. O segredo? São as nanocásulas diz o CeNTI, de Famalicão.

Já ouviu falar no Skhincaps? É um projeto europeu que promete revolucionar os têxteis e a nossa forma de viver com eles, num trabalho a várias mãos, liderado CeNTI – Centro de Nanotecnologia e Materiais Técnicos, Funcionar e Inteligentes, de Famalicão.
Com o CeNTI trabalham parceiros de cinco países europeus que têm um orçamento de 3,2 milhões de euros para desenvolver têxteis e cosméticos funcionais, com incorporação de nanocápsulas de base natural. O objetivo é produzir roupa que se adapta ao clima, garante conforto térmico ou liberta para a pele substâncias ativas como óleos essenciais, vitaminas, antioxidantes.

No limite, isto significa, por exemplo, que podemos ter uma camisola fresca no verão e quente no inverno e que liberta antioxidantes para ajudar a retardar o envelhecimento da pele.

Para isso, o CeNTI e os seus parceiros estão a dar propriedades funcionais a têxteis de primeira camada (em contacto com a pele), de forma a garantir peças de roupa prontas a atuar em função das necessidades de cada consumidor, libertando substâncias ativas de forma controlada.

Para melhorar o desempenho térmico dos têxteis, são incorporados materiais de mudança de fase (absorvem energia durante o processo de aquecimento para a poderem emitir essa energia, depois, no processo de arrefecimento), com ganhos na gestão térmica do corpo e no conforto dos utilizadores. Mas, ao mesmo tempo, os têxteis podem incorporar nanocápsulas de libertação controlada de vitaminas e antioxidantes para reduzirem os efeitos do envelhecimento da pele ou, até, óleos essenciais para prevenir/combater infeções bacterianas.

A revolução, aqui, está na aposta no nível nano, com cápsulas menores do que as que são usadas atualmente (micro) e que passam mais facilmente pela pele, tornando-se mais eficazes.

2020 no horizonte

Carla Silva, diretora de tecnologia do CeNTI e coordenadora deste projeto, que tem 2020 como horizonte para a apresentação de resultados, acredita que os produtos que estão a ser criados têm "forte capacidade de produção industrial". Aliás, o CeNTI, que coordena este projeto com o Institut fuer Verbundwerkstoffe (Alemanha) , a Universitat Politécnica de Catalunya (Espanha) e o Teknologian Tutkimuskeskus VTT Oy (Finlândia) tem, também, quatro empresas como parceiros: a portuguesa Devan-Micropolis, a belga Pro-Active e as espanholas Bionanoplus e Telic que é também a empresa que desenvolve os cosméticos do Real Madrid e do FC Barcelona.

O CeNTI, com 70 trabalhadores, está atualmente envolvido em mais de seis dezenas de projetos entre o Portugal 2020, o Horizonte 2020 e iniciativas diretas com clientes. No currículo, este centro de investigação dedicado ao desenvolvimento de novos produtos e soluções assentes na nanotecnologia, materiais funcionais e inteligentes tem a participação em mais de 170 projetos com a indústria e 57 pedidos ativos de patentes, 7 das quais já foram concedidas.

Fundado em 2006, o CeNTI resulta de uma parceria entre três universidades - Porto, Minho e Aveiro – e três entidades tecnológicas - CITEVE (Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e Vestuário de Portugal), CTIC – Centro Tecnológico das Indústrias do Couro e CEIIA – Centro para a Excelência e Inovação na Indústria Automóvel.

Apontados como um dos motores de crescimento da indústria têxtil, os têxteis técnicos valem cerca de 35% das exportações nacionais do sector, mas estão a ganhar peso e, no final da década, a sua quota deve estar já nos 40%, de acordo com dados da ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal.