O Centro de Estudos da Escola de Arquitetura da Universidade do Minho (CE.EAUM) começou a sua atividade em abril de 2009, em resultado do desafio da Câmara Municipal de Guimarães para a realização do "Projecto de Requalificação Urbana da Praça do Toural, Alameda de S. Dâmaso e Rua de Santo António". Desde então, este Centro desenvolveu uma série de relevantes projetos de requalificação, entre os quais se destacam o Centro de Interpretação da Cité Portugaise em El Jadida, em Marrocos, a Casa Jardim do Museu Nogueira da Silva, o Complexo do Largo do Paço e o Convento de São Francisco, em Braga.

Também a convite da autarquia de Guimarães, o CE.EAUM tornou-se responsável pela requalificação do Centro Cívico das Taipas, que visa a transformação do centro desta vila através de modificações estruturais da mobilidade pedonal, da sensibilidade ecológica e do património. O projeto prevê eliminar o parqueamento e circulação de viaturas e devolver o espaço público aos cidadãos, através de novas esplanadas e de uma solução diferente de arborização. Pretende ainda preservar alguns elementos históricos das Taipas e recuperar os recursos hídricos preexistentes, nomeadamente o rio Ave e a Ribeira da Canhota, bem como o papel estruturante destes na caracterização do espaço. 

A NÓS Alumni conversou com Marta Labastida, arquiteta e professora da Escola de Arquitetura da Universidade do Minho (EAUM) que é também coordenadora do projeto das Caldas das Taipas.

O CE.EAUM é responsável pelo projeto de requalificação do Centro Cívico das Taipas que está a ser coordenado por si. Como surgiu esta oportunidade?

A Câmara Municipal de Guimarães está a criar uma candidatura para a Capital Verde Europeia e entendeu que devia começar a criar centralidade fora do centro histórico de Guimarães, apostando no espaço público. A candidatura não diz respeito apenas às Taipas e este projeto formará parte de um grupo grande de ações a fazer. Neste contexto, considerou que o património histórico das Taipas reunia características para ser um exemplo. Há um paralelismo com a Capital Europeia da Cultura, que se realizou em 2012, mas saindo do centro de Guimarães e procurando novas centralidades, ou seja, trabalhando em várias freguesias do concelho, neste caso as Caldas das Taipas que é uma vila com algum peso para a região.

A autarquia de Guimarães recorreu então ao Centro de Estudos para desenvolver o projeto. A Professora Maria Manuel Oliveira convidou-me, nessa altura, para coordenar a equipa constituída não só por arquitetos, mas também por profissionais de outras áreas, tanto do âmbito da engenharia civil como do paisagismo, como alguns consultores, como é o caso do Professor Paulo Ramísio no âmbito da hidráulica; o Eng. António Babo na mobilidade, e alguns professores da casa como o arquitecto João Cabeleira, na área de história da arquitetura, o arquitecto André Fontes na mobilidade e o o arquitecto Carlos Maia na construção.


martalabastida.jpgMarta Labastida no CE.EAUM​

Em traços gerais, que alterações significativas pretendem fazer naquela zona?

Por um lado, o projeto propõe diminuir a presença de carros no centro das Taipas como forma de estimular as pessoas a percorrê-lo, a pé ou de bicicleta. Propõe também recuperar ou qualificar o próprio espaço público que, como está, resulta muito de um desenho que resolve as questões funcionais do carro e não tem grande qualidade para as pessoas que o queiram desfrutar. Outro ponto importante do projeto tem a ver com requalificação da Ribeira da Canhota que, antigamente, passava enterrada pelo centro da vila e agora vai ser posta à superfície.

Estes pilares ligam muito bem com as características do CE.EAUM porque são exemplos de mudanças de paradigma. A vila das Caldas das Taipas sempre foi muito associada ao rio Ave e à praia fluvial e pretende-se, com este projeto, devolver a memória dessa presença da água e das termas e de um sítio que as pessoas procurem para relaxar.

Qual foi a importância das sinergias que se criaram com outros departamentos da UMinho e até mesmo com órgãos externos à Universidade.

 Eu dou aulas de "Espaço Público" e em cada projecto peço aos alunos para sairem e interagirem com a comunidade para perceber melhor as necessidade e exigências do colectivo. O arquiteto tem que aproveitar as sinergias e, muitas vezes, ser ele a promovê-las e estimulá-las. Isto é muito importante e, por vezes, não se entende a profissão do arquiteto desta forma. Entende-se como uma pessoa que faz um desenho e que depois constrói, mas este processo obriga a muita comunicação e participação necessári com o engenheiro civil ou qualquer outro especialista, com a câmara, com a Junta de Freguesia ou com os moradores e isto é um trabalho que não é tão visível e, às vezes, pode implicar muito polémica. Interessa-me muito que, em todos os projetos que desenvolvo, trabalhe com as pessoas envolvidas e com comunidades concretas e isto é um esforço que julgo que um arquiteto tem que saber fazer e desde a docência devemos promover.

Os projetos têm integrado antigos alunos da EAUM?​

O corpo de colaboradores que existe no CE EAUM é de antigos alunos da Escola de Arquitectura que começam como estagiários e acabam por ficar algum tempo mais como arquitectos. Acaba por ser uma boa experiência para eles porque permite ter um contacto com a realidade profissional e, ao mesmo tempo, trabalham em condições que são ótimas e que não existem lá fora, nomeadamente ter tempo para pensar no projeto e complementar este processo com a investigação. Esta é a nossa bandeira e que não queremos perder. Não estamos aqui para concorrer com o mercado externo e não queremos perder esta condição porque, se perdermos, não vale a pena existirmos. 

Quantas pessoas estão neste momento no CE.EAUM?

No CE.EAUM  temos, neste momento, cinco colaboradores no total. No projeto da vila das Taipas está só uma pessoa porque estamos no processo final, mas colaboraram até quatro arquitectos.

Na sua opinião, que impacto é que este Centro tem tido para a região?  

Cada vez que se trabalha no espaço público já se sabe que está associado a alguma visibilidade. A nossa grande bandeira é o Toural porque já foi ampliamente e internacionalmente reconhecido,  esteve associado a um evento internacional e as pessoas de Guimarães ajudaram muito a divulgá-lo.

Por outro lado, começamos a mostrar e divulgar o trabalho realizado no CE.EAUM a pessoas de fora porque começamos a entender que tem uma utilidade seja no âmbito da investagação ou no âmbito da docência. Cada vez que nos visitam, estudantes ou professores de outras escolas, fazemos questão em mostrar este Centro e temos tido reações muito positivas porque entendem o privilegio que significa poder integrar numa escola de arquitectura uma práctica profissional que ao mesmo tempo inclui investigação e partilha experiências entre docentes, profissionais e especialistas de distintas áreas, alunos e ex-alunos, etc.

taipasartigo.jpgMarta Labastida no CE.EAUM​

Doutorou-se pela EAUM. Porquê a opção por Portugal e pela UMinho?

Eu sou de Barcelona onde fiz os meus estudos superiores. Vim depois em ERASMUS para a Faculdade de Arquitetura do Porto. Foi aí que conhecí o Professor Manuel Fernandes de Sá que anos mais tarde, em 2002, me convidou para dar aulas aqui como Assistente e, ao mesmo tempo, colocou-me um desafio que era trabalhar sobre o Vale do Ave. A minha tese tem como título "Paisagem próxima: fragmentos do Vale do Ave" e reflete a minha aprendizagem e dificuldade pessoal em confrontar-me com este território desde aquele desafio. Nela exponho uma metodologia de aproximação a este território como forma de valorização , isto é, como forma de devolver o valor deste território que muitas vezes é negligenciado porque não se observa desde a proximidade. Eu estou muito contente por ter tirado aqui o meu doutoramento porque me deu a possibilidade de pôr no papel esta experiência que foi bastante gratificante. ​

O que distingue a EAUM?

O nosso contexto e diferente e nós podemos aproveitá-lo ou renegá-lo. Julgo que aqui temos uma possibilidade fantástica de trabalho e temos à nossa volta muitos campos em aberto que podem ser explorados. Temos um plano de estudos que é muito diferente das outras escolas. Os três primeiros anos são bastantes comuns a outras Escolas, mas no quarto e quinto ano colocamos ao aluno a opção de escolher entre Território, Construção ou Cultura Arquitetónica. O é obrigado a fazer um esforço extra e assim aprender a gerir as suas ferramentas e aprender outras mais específicas. A EAUM tem esta característica distintiva. Por outro lado, esta escola tem a vantagem de ter a vertente do Design De Produto entendemos como uma mais valia que devemos saber explorar melhor. Por fim temos também o privilégio de estarmos neste edifício maravilhoso (desenhado por Fernando Távora e J. B. Távora).