​Uma equipa da Escola de Engenharia da Universidade do Minho está a estudar o funcionamento da rede rodoferroviária na Europa perante riscos naturais e humanos, como incêndios, tempestades, derrocadas, atos de suicídio e choques. Os cientistas querem criar modelos preditivos do impacto e frequência daquelas ocorrências, conceber uma app de alerta com a melhor via a seguir após um evento extremo, bem como inserir sensores em comboios e outros equipamentos para detetar anomalias nas infraestruturas, aperfeiçoar as barreiras em áreas críticas e, ainda, capacitar a sociedade neste âmbito.

 
O grupo da UMinho é coordenado por José Campos e Matos e está em vários projetos em paralelo. Lidera o “Atlantic SIRMA”, que até 2021 tem dois milhões de euros do programa Interreg e junta entidades do Reino Unido, Irlanda, França e Espanha. O objetivo é analisar efeitos dos desastres naturais na degradação de vias de transporte na faixa atlântica. Já o “Safeway”, que finda em 2022 e tem 4.5 milhões de euros do Horizonte 2020, aborda a influência humana e natural nas ferrovias, rodovias e redes multimodais. Gerido pela Universidade de Vigo, agrega academias, empresas e operadores de Itália, Holanda, Reino Unido, Noruega, e Suíça, além da UMinho e das Infraestruturas de Portugal.
 
“Queremos desenvolver ferramentas e tecnologias para reforçar a gestão de risco nestas vias”, frisa Campos e Matos. “Um suicídio, por exemplo, obriga a parar uma linha ferroviária e isso traz muitos custos sociais e económicos”, realça, notando também que a origem dos riscos humanos tem um quadro psicológico e cultural próprio. “Na verdade, cada zona estará mais suscetível aos seus problemas específicos: as marítimas estão sujeitas a tempestades, as fluviais a cheias, as despovoadas a incêndios, os vales a torrentes, deslizamentos e descarrilamentos, as cidades a terrorismo…”, enumera o investigador do Instituto de Sustentabilidade e Inovação em Engenharia de Estruturas (ISISE), no campus de Azurém, em Guimarães.
 
A influência das alterações climáticas
 
As alterações climáticas têm afetado o Atlântico europeu, como sucede com tempestades tropicais ou grandes incêndios, levando à degradação imediata de certas infraestruturas de transporte. “Os carris da ferrovia do Sul da Europa, face à subida das temperaturas, “terão mais casos de dilatação”, logo dificuldade de manutenção e disponibilidade do serviço, aumentando custos diretos e indiretos. Já a ferrovia na Irlanda, por exemplo, tem sofrido muitas cheias, ameaçando a segurança e as infraescavações em pontes”, descreve. Campos e Matos assinala ainda a má opção pela construção de certos trajetos na proximidade marítima: “É um problema sério, devido à subida progressiva do nível da água do mar”.
 
No caso das estradas e autoestradas, a prevenção aposta nas passagens hidráulicas (box culverts) ou no corte temporário do acesso, como em derrocadas e no deslizamento de aterros. “Há de facto uma grande interdependência das redes rodoviárias e por vezes passa despercebida; em muitos dos fogos, os sistemas de comunicação falham porque a via também ficou destruída, incluindo esta cabos de comunicação em fibra ótica”, alude o também professor do Departamento de Engenharia Civil da UMinho.
 
A sua equipa tem mapeado as necessidades no terreno e, para o projeto “SIRMA”, definiu três fases: mitigar rapidamente os problemas detetados; conceber modelos com a performance histórica das infraestruturas, estimando em gráfico quando ficarão ameaçadas; e criar soluções de prevenção e manutenção – por exemplo, desenvolvendo uma aplicação para alertar o cidadão sobre um caminho alternativo perante uma intempérie; a monitorização inovadora da ferrovia pelos próprios comboios, que através de sensores e vibrações poderão detetar irregularidades e materiais em falta; e a formação de técnicos para saber como agirem nos eventos extremos e junto das populações.