Maria do Carmo Mendes, professora da Universidade do Minho e especialista em literaturas e culturas africanas de língua portuguesa, acaba de lançar o livro “Africanidades Eletivas”. A obra, constituída por 22 ensaios e editada pelo Institute for Anthropocene Studies, é fruto de uma década de pesquisa e aborda nove escritores – o angolano Pepetela, os cabo-verdianos Germano Almeida, Arménio Vieira e Orlanda Amarílis e os moçambicanos Mia Couto, José Craveirinha, João Paulo Borges Coelho, Paulina Chiziane e Rui Knopfli.

O livro foca a ligação entre as literaturas e culturas portuguesa, africanas e brasileira, o silenciamento, ostracismo e marginalização das mulheres africanas nos contextos colonial e pós-colonial, a relação com a natureza, a emigração, o exílio e a identidade na diáspora e ainda aspetos como a utopia, a heterotopia e o fantástico, explica a professora do Instituto de Letras e Ciências Humanas (ILCH) da UMinho.
 
Maria do Carmo Mendes refere, por exemplo, que o conto é o género mais bem adaptado ao legado da cultura tradicional africana, que o jazz contribuiu para a emancipação dos negros africanos, que Mia Couto metaforiza em animais selvagens uma humanidade da qual por vezes os humanos carecem, que as literaturas africanas suscitam leituras ecocríticas relevantes ou que os autores retratados abordam um futuro entre o esperançoso e o sombrio, marcado sobretudo por intromissões tecnológicas que abalam os ecossistemas.
 
O volume foi apresentado ao público na Feira do Livro do Porto, por Isabel Ponce de Leão, da Universidade Fernando Pessoa, que o considerou “de consulta obrigatória” para quem estuda línguas e culturas africanas, face ao seu rigor e à leitura fácil, sendo ainda “um abraço” a todas as comunidades lusófonas.
 
Maria do Carmo Mendes é doutorada em Literatura Portuguesa pela UMinho. Nesta universidade é, desde 1992, professora e investigadora do ILCH, no qual foi também vice-presidente entre 2016 e 2020. É ainda investigadora do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa. Foi professora convidada na Universidade Linguística Estatal de Moscovo (Rússia) e na Universidade de Holguín (Cuba). Publicou ensaios sobre 15 escritores portugueses, como Luís de Camões, Almada Negreiros, Miguel Torga, Teolinda Gersão e José Régio, além de uma dezena de livros, como "Mito de Don Juan e Donjuanismo na Literatura e no Cinema”, "Narrativas de Viagens", “Literatura Fantástica e Policial” e “Influências Clássicas na Literatura Portuguesa Contemporânea”. As suas publicações recentes são “Idades da Escrita. Estudos sobre a Obra de Agustina Bessa-Luís” e “Ecocriticism. Literature, Arts and Ecological Environment”.