A Covid-19 fez com que o mundo atravessasse várias fases. Primeiro não se esperava um surto global, depois o receio do desconhecido, com o vírus a alastrar entrou em vigor a estado de emergência que contemplou o confinamento obrigatório e o distanciamento físico. Depois de um mês e meio do País quase parado e da pandemia mais ou menos controlada, foi decretado o fim do estado de emergência e declarado o estado de calamidade que implicou o cumprimento específico de regras sociais.
 
O desconfinar a pouco e pouco, abrindo primeiro os sectores que representavam menos perigo de contágio e assim sucessivamente, foi o primeiro passo. Actualmente são poucos os sectores que não regressaram à sua actividade, mas as medidas de segurança têm de ser cumpridas e, portanto, a normalidade, está ainda longe de estar de volta a 100%. O medo continua a fazer parte da vida das pessoas, e a economia continua longe de ser o que era. É preciso encontrar uma solução urgente. Será que a BIGGERmagazine tem a resposta?
 
Numa altura que é talvez para Guimarães a fase mais desafiante dos tempos modernos, quer economicamente quer socialmente, onde se procura um novo paradigma económico sob orientação da Câmara Municipal e do seu Gabinete de Crise, voltamos à conversa com o Professor Paulo Novais. Uma personalidade jovem, multifacetada, um dos nossos melhores que tem muito para oferecer à Terra. Ele é o principal rosto da Inteligência Artificial em Portugal e falou-nos se este é o momento para a I.A. ‘salvar’ o mundo...
 
Trabalha na Inteligência Artificial desde 1992 e em 28 anos foi testemunha de grandes progressos nesta área que ainda tem muito por onde evoluir.
 
O antigo presidente da Associação Portuguesa de Inteligência artificial, é professor catedrático na UMinho e também Juiz da Irmandade de S. Torcato que, para além das múltiplas questões relacionadas com a basílica, tem também a seu cargo uma grande obra social.
 
Vamos então, com este insigne vimaranense, saber mais sobre o presente e o futuro que está aí ao dobrar da esquina... Se é um leitor assíduo da nossa publicação mensal, sabe que Paulo Novais tem 52 anos, é licenciado em Engenharia de Sistemas Informáticos e que é professor e investigador universitário na área da Inteligência Artificial na UMinho.
 
Recebeu-nos na sua segunda casa: no laboratório de Inteligência Artificial da UMinho em Braga, e não estava sozinho, consigo estava a sua equipa (seus alunos) e o director do Algoritmo José Machado.
 
A Inteligência Artificial na ajuda do combate ao Covid-19
 
Este é um curso que tem cada vez mais alunos e, segundo o nosso interlocutor, é sem dúvida o futuro. É uma área com 64 anos e quase tão antiga como a informática, embora só nos últimos 10 anos tenha ganho mais destaque e reconhecimento. São cada vez mais os empresários que recorrem à I.A. para equipar as suas empresas.
 
Existem muitos projectos em desenvolvimento no departamento de I.A da UMinho, mas José Machado referiu-nos que neste momento estão a trabalhar sobretudo com hospitais. “Trabalhamos com sistemas informáticos de vários hospitais do País, incluindo o de Guimarães.”
 
Para além disso criaram uma aplicação web que monitorava os doentes de Covid-19 que estavam em internamento domiciliário. “Esta ferramenta foi desenvolvida com o único objectivo de servir no controle desta doença. A App regista os sintomas e a evolução dos doentes que estão em casa. Essa mesma plataforma avisa as pessoas que testam negativo à Covid-19, já que os que testam positivo têm de ser avisados telefonicamente. Também ajudamos a enviar esses dados para o Ministério da Saúde.”
 
Outro dos trabalhos interessantes prende-se com os carros autónomos que não vão precisar de condutor, mas este tema dará certamente para outra entrevista.
 
A I.A. vai substituir o homem?
 
O que torna o homem humano e o que o distingue das outras espécies é a sua inteligência, e a I.A. é a expansão dessa qualidade. “A minha expectativa é que em termos de conhecimento o homem vai ter uma utilização exponencial da inteligência, o que vai permitir que os sistemas sejam mais eficientes. Se vamos substituir o homem eu diria que não nem desejo isso. Não sou a favor de uma inteligência artificial humanoide.”
 
Guimarães é uma cidade com várias pessoas ligadas a esta área, inclusive algumas a trabalhar na CMG, e a maior parte delas doutoradas em I.A. Este será obviamente um ponto a favor de uma maior informação sobre as vantagens desta tecnologia no sector industrial.
 
Guimarães procura empenhadamente um “milagre” económico. Será a grande oportunidade para a inteligência artificial? “Quem tem o conhecimento domina claramente a sociedade a capacitar-se no manuseamento das ferramentas que produzem esse conhecimento é uma vantagem competitiva que os poderá colocar na linha da frente. Agora, temos de ser capazes de as usar, isto é, ter mecanismos que façam com que as nossas empresas e organizações tenham vontade e dimensão para poderem e conseguirem utilizar este tipo de tecnologia.”
 
A grande maioria das empresas vimaranenses têm uma tradicional estrutura de raiz familiar que pode ser impeditiva de fruirmos dos mais recentes avanços tecnológicos, mas Paulo Novais vê outros motivos mais vincados. “Claro que esse facto pode não ajudar. Porém, tenho notado até abertura dos empresários vimaranenses para este salto tecnológico. Julgo que lhes falta um pouco a noção de que os colegas não são adversários mas sim parceiros, porque juntos somos mais fortes. Juntos irão conseguir fazer coisas que provavelmente sozinhos nunca conseguirão. Penso que este upgrade tecnológico tem de ser em conjunto, porque os recursos de cada empresa juntos dão para fazer coisas maiores. Eles já perceberam a importância deste salto e estão a caminhar para a mudança.” Mais do que motivos económicos, são as questões organizacionais que os impedem de inovar.
 
Guimarães no top das cidades inteligentes
 
A Câmara Municipal de Guimarães tem estado num processo de transformação digital. Neste momento Guimarães está conotada como uma das cidades modelo na área das cidades inteligentes e já há uma mudança muito interessante na divisão de sistemas inteligentes da CMG. Mas há outras empresas a apostar na I.A.
 
“A Farfetch é um exemplo claro de uma empresa que tem investido nestes sistemas.” Não só para acompanhar a evolução, mas, ao mesmo tempo, estar na linha da frente no que diz respeito às novas tecnologias.
 
Antes das empresas saltaram para a I.A. existe uma fase de digitalização que é fulcral para o início do processo. Será que as empresas de Guimarães estão preparadas?
 
“Eu tenho feito o meu papel enquanto cidadão e tenho trazido cá algumas das mentes brilhantes deste País e até do estrangeiro nesta área. Tenho organizado alguns eventos no sentido de dar a conhecer as vantagens da I.A. e o Grupo Santiago tem ajudado a divulgá-los, mas gostaria de ver um maior dinamismo na Cidade-Berço”, ressalvou com desalento.
 
Paulo Novais sente, no entanto, que estamos no bom caminho. O trabalho mais difícil já foi feito, que se prende com a crença de cada um aos benefícios da Inteligência Artificial. Esse passo está dado, agora resta a vontade de mudar!
 
O Juiz da Irmandade
 
É um marco histórico na devoção a São Torcato. O Santuário foi elevado à categoria de Basílica.
 
A declaração do Vaticano já tinha sido anunciada, mas foi oficializada durante a celebração litúrgica em que foi atribuída “honra de Basílica” ao templo, num momento que mereceu aplausos dos fiéis e que contou com a presença de representantes de diferentes entidades.
 
Para a Irmandade de São Torcato, esta data especial está associada à concretização de um sonho.
 
No mesmo dia que alcançou este estatuto e que coincidiu com a tradicional Feira dos 27, foram inauguradas as estações da via-sacra que liga a Basílica à igreja matriz de São Torcato, bem como o novo elevador que torna mais acessível o acolhi - mento dos devotos. Obras materiais e imateriais que não param, fazendo jus à tradição.
 
Com o término destas obras, os responsáveis pela Irmandade, liderada por Paulo Novais, vão agora poder voltar as suas atenções para outras questões.
 
“O próximo passo será um reforço da centralidade da Basílica em toda a região, visando atrair mais devotos e romeiros. Em termos patrimoniais S. Torcato é provavelmente uma das vilas de maior atractividade que existem fora do centro de Guimarães em termos de infraestruturas, e há um conjunto de projectos em que estamos a trabalhar à volta disso.”
 
Devido à pandemia, muitos atractivos desta Vila foram suspensos, designadamente, a Feira dos 27 e a Romaria Grande de S. Torcato. Também o Parque e a Basílica foram encerrados e essa foi sem dúvida a medida mais difícil que o Juiz teve de tomar desde que lidera a instituição. “Desde o início que aplicamos as mais estritas recomendações da DGS e, felizmente, as coisas correrem bem. Fechar e suspender tudo foi uma dor no coração, mas pelo bem geral teve de ser assim.”
 
O Lar não foi atingido pela Covid-19 e até à data não houve nenhum infectado. “As medidas foram tomadas nesse sentido, e mesmo com o desconfinamento mantemos algumas regras de segurança nas visitas aos nossos utentes obedecendo a regras de distanciamento físico. Ainda assim o risco aumenta. Porém, vamos acreditar que tudo vai continuar a correr bem.”
 
Os parques já estão disponíveis, mas o uso dos equipamentos está condicionado. Paulo Novais espera que para o ano tudo volte à normalidade e que a Feira dos 27 e a Romaria Grande de S. Torcato continuem a ser um forte atrativo da Vila.
 
Reportagem: Bigger Magazine