"O meu espírito irrequieto nunca me deixou ficar parado muito tempo." Bernardo Belo Marques, 77 anos, de Braga, reformou-se em1995 e nunca quis passar os dias ajogar cartas ou dominó num banco de jardim. "Seria deprimente, um desperdício de tempo, uma vida desenxabida." São 23 anos de vida de reformado. "Faço sem pressas o que me dá prazer e não me recordo de ter tempo vago", confessa. 

Recuperou um gosto antigo, a pintura, e expôs obras em vários espaços da cidade. Esteve na fundação da Rádio Barcelos e na dinamização de uma associação de doentes de AVC, como voluntário. Pelos 70, tirou duas licenciaturas, História e Arqueologia, e foi conhecer estações arqueológicas na Grécia, em Itália e naTurquia. Seguiu para o mestrado de História com uma tese sobre emigração de portugueses para o Brasil durante a Inquisição, que terminou este ano. Foi o aluno mais velho da Universidade do Minho. Neste momento, está a escrever um livro sobre a história da família e junta duas paixões: história e genealogia. "Passo muito tempo em pesquisas, consegui encontrar o meu primeiro avô conhecido em 1575", revela, bastante animado.

A pintura está em banho-maria, o livro tem agora prioridade, a fotografia e o cinema são um passatempo, ora fotografa eventos de Braga, ora documenta em filme o que lhe interessa. Conduz, anda de bicicleta. Aos sábados, tem a casa cheia com os três filhos e os cinco netos. Volta e meia, mete-se num avião para viajar. "Vivo dentro deste escafandro que é o meu corpo, mas cá dentro há um jovem." Envelhecer? "A idade é esta, é a que eu tenho." E o que é preciso? Estudar, ganhar mais conhecimento, manter a cabeça a funcionar.

Bernardo Belo Marques é um exemplo de que nunca é tarde para aprender. Em 2002, a Organização Mundial da Saúde definiu o envelhecimento ativo como oportunidade de saúde, segurança e participação social. A esses três pilares juntou, em 2015, a aprendizagem ao longo da vida. "Apesar das maiores limitações que, de facto, se verificam na fase mais avançada da vida, a maioria das pessoas quer envolver-se nas decisões sobre as suas vidas, fazer algo que lhes dê um propósito ao dia-a-dia e estar rodeada de pessoas que importam", adianta Lia Araújo, licenciada e mestre em Gerontologia, professora na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu, colaboradora na Unidade de Investigação e Formação sobre Adultos e Idosos (UNIFAI). Os mais velhos querem mandar nas suas vidas. Há, porém, obstáculos. "A diminuição da rede social (perda de amigos e familiares), as maiores dificuldades sensoriais (audição e visão) e de mobilidade, que tendem a acompanhar o avançar da idade, podem constituir enormes barreiras à interação e participação social", repara. Por isso, apoio, incentivos e estímulos são essenciais. E isso são coisas que não faltam na vida de Maria Lisete Rodrigues, de 84 anos, mãe de três filhos, avó de cinco, de Viseu. Lisete canta numa banda rock com solos em músicas dos Xutos, Rádio Macau e Lena d'Água. Canta ainda num grupo coral e tenta não perder concertos, peças de teatro e atividades culturais que acontecem pela cidade. Volta e meia sai à noite com a filha mais nova. "É para aqui, para 'acoli'. Os meus filhos, as minhas noras e o meu genro são tipos muito fixes." 

Às quartas de manhã, está nos ensaios de A Voz do Rock, banda composta, em grande parte, por gente de Viseu com mais de 70 anos. Lisete lá está no projeto que tem cinco anos e que desafia o estereótipo da idade. Na cabeça está ainda fresca a imagem de uma das últimas performances. "Adorei tudo, aquela juventude comas luzinhas dos telemóveis, a malta toda com os bracinhos no ar."

Tem o Curso Geral do Comércio, 5.° ano antigo, e toma conta da loja de ferragens e utilidades domésticas do marido que morreu há 30 anos. Já lá trabalhava, o único emprego que teve depois de criar os filhos, não quis fechar a porta, agarrou no negócio de família com o filho mais velho. É uma pequena drogaria com louças, cafeteiras, copos, talheres, parafusos, de tudo um pouco, com cadeiras à disposição para quem quer dar dois dedos de conversa. Lisete abre os ouvidos, escuta, dá conselhos. "Fico em casa a fazer o quê? Aos fins de semana, visito as amigas no lar, aos domingos não paro, vou passear com a minha irmã e com o meu cunhado." Usa o cabelo natural, branco como é, e volta e meia veste-se à roqueira com casaco de cabedal. "Felizmente, não tenho doenças graves, de vez em quando umas dores nos joelhos, mas chega-se um bocado de pomada e a coisa passa." Um dia de cadavez. "Estou muito bem da forma como estou. Avida é assim, temos altos e baixos, arregaçam-se as mangas e toca-se a coisa para a frente." 

Cerca de 2,2 milhões de portugueses têm 65 ou mais anos. São 21,6% da população. Lisete está nesta percentagem e num clube restrito dos não reformados. A idade da reforma é determinada pela aplicação de uma fórmula de cálculo que tem em conta a evolução da esperança média de vida, como fator de sustentabilidade ao barulho. Agora está nos 66 anos e cinco meses sem penalizações. "Esta questão é fulcral. Julga-se a capacidade das pessoas apenas em função da idade e não pelas capacidades que têm em determinada altura", aponta Maria João Quintela, presidente da Associação Portuguesa de Psicogerontologia, licenciada em Medicina e mestre em Gerontologia. "Uma pessoa que trabalha toda a vida por que há de ser arredada do sistema participativo?", pergunta. Em seu entender, há muito a fazer. Trabalhos mais leves, horários mais flexíveis para os mais velhos. 
 
A idade da reforma pode ser qualquer idade. "Reduzir tudo ao bilhete de identidade é uma forma simplista de organizar as estatísticas." Em seu entender, os mais velhos não podem ser vistos como um problema para a sociedade. Não são um custo, são uma mais-valia que não é pesada em nenhuma balança. "Muitas famílias não podiam trabalhar se não fossem os mais velhos que levam os netos às escolas. A sociedade olha-os como um custo, mas há um conjunto de participações que não são valorizadas pela sociedade. O valor dos mais velhos não está quantificado", avisa. E, por isso, defende que é urgente mudar mentalidades. "Os mais velhos de hoje não são os mais velhos de ontem e não serão iguais aos de amanhã", acrescenta e conclui: "Não podemos ter uma sociedade que tolere os mais velhos que nunca mais morrem - e ninguém quer morrer antes do tempo. Portugal demorou muito a perceber que era um país que estava a envelhecer e a resposta não se deu à velocidade necessária para se transformar numa sociedade mais inclusiva para os idosos".

VIAJAR, TER UMA PERSPETIVA DE VIDA

Depois da reforma, Cláudio Gomes, de 72 anos, não pára de viajar. Autointitula-se, com graça, "técnico superior de lazer", e é assim que se apresenta no Facebook. Tem 110 países no currículo. Em 2017, comemorou 70 anos e a marca dos 100 países na China. No ano passado, esteve no Sri Lanka, Líbano, Roménia, Bulgária, Bielorrússia, Namíbia. Este ano, já viajou pelas capitais do Báltico e estará na Sérvia no próximo mês. "O objetivo é chegar aos 150 países, sem pressas", diz.

"A felicidade é difícil de definir. Vou ao encontro do inesperado, viajo sem preconceitos." Faz contas à vida, espreita as promoções. "Não viajo além das minhas possibilidades." Tem meio mundo no pequeno escritório de casa em Leça da Palmeira. Nas paredes, fotografias de viagens que tira com a sua Nikon, arte em que é autodidata, álbuns e recordações nas prateleiras. Em 2015, esteve na Coreia do Norte e tirou mais de 800 fotografias. Sempre que pode regressa a Paris, Nova Iorque, Londres, Praga, Florença, Buenos Aires. É um viajante, não um turista. Adapta-se aos locais que visita sozinho ou em grupos pequenos.

Aos 55 anos, reformou-se da repartição de Finanças, aos 60 deixou de ser treinador de basquetebol. "A minha qualidade de vida melhorou substancialmente, faço aquilo que quero fazer, e é importante ter uma perspetiva de vida", refere. Vive sozinho, é solteiro, dorme uma sesta depois do almoço, lê bastante, nas televisões só consome informação, caminha à beira-mar quando lhe apetece. De setembro a junho, passa os fins de semana a fotografar jogos de basquetebol, partilha as imagens nas redes sociais. Não conduz. "Sou um grande felizardo, não tenho carro, o que poupo dá para uma viagem." Dá-se à preguiça quando lhe apetece. "É uma boa atividade." Mantém a cabeça ocupada. "Não me sobra tempo, falta-me tempo. Envelhecer é estar ativo de uma forma saudável, cuidar do corpo e da mente, estar lúcido." E o futuro? "O futuro não me assusta. O importante é manter a perspetiva de vida. A receita é boa, é mantê-la."

A saúde é fundamental na receita de Cláudio Gomes. Mas nem sempre é assim. O tempo passa e a diminuição ou perda de autonomia, a dependência e a aceitação dos traços da velhice, fazem parte. "Envelhecer é, em primeiro lugar, aceitar que o passar do tempo é irreversível, que dele resultam marcas: no corpo, nas pessoas, cuja presença física deixa de existir, nas memórias, cuja partilha se esmorece pela ausência de interlocutor geracional, e pela doença, que uma vez instalada se afigura crónica e que reivindica uma gestão das suas implicações no quotidiano", refere Óscar Ribeiro, professor de Psicologia na Universidade de Aveiro, investigador na área do envelhecimento no Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS). Envelhecer pressupõe aceitar mudanças a vários níveis e a expressão "espírito jovem" tem os seus perigos. Na  aceitação das alterações, o especialista em Psicogerontologia sublinha que "impõe-se aceitar que nem sempre a mente envelhece ao ritmo do corpo, e que querer manter-se de 'espírito jovem' a qualquer custo é contrariar o compasso mais cadenciado que a corporalidade exige". 

A população portuguesa está cada vez mais envelhecida. Entre 2000 e 2017, o número de portugueses com 65 ou mais anos aumentou consideravelmente, de 1688130 para 2 213 274. Ou seja, mais 525 144 pessoas. Entre 2010 e 2015, há um salto significativo com mais 57 067 idosos. Elas continuam a ser mais do que eles em todas as faixas etárias acima dos 65 anos. Em 2017, Portugal tinha 201 872 mulheres com 85 ou mais anos e menos de metade do lado dos homens, com 95 666. E, neste momento, em 23% dos concelhos do continente vivem mais reformados por velhice do que trabalhadores, sobretudo em Trás-os-Montes, Beira Interior e Alentejo. 

Lucília Ferreirinha, de 88 anos, mora num desses concelhos, em Macedo de Cavaleiros. Estar no lado dos pensionistas não é sinal de estar parada. No seu caso, bem pelo contrário. Às segundas-feiras de manhã, atravessa a rua e está na antiga escola primária de Grij ó para mais uma aula de "ginástica familiar", como lhe chama. "A ginástica é por uma questão de  convívio." já lá está há quatro meses. "Ainda não sinto a idade que tenho e não paro, não sei quantos passos dou por dia, para lá, para cá, e não tenho mulher-a-dias." São 21 anos como enfermeira reformada.

A reforma trouxe-lhe tempo para fazer muitas coisas. Visita doentes e pessoas que estão sós, distribui  todos os meses porta-a-porta 26 exemplares do jornal "Ação Missionária", cozinha, lava a louça, arruma a cozinha, trata do pequeno quintal, do cão e dos quatro gatos. Quando é preciso, pega no carro para ir dar uma injeção a quem lhe pede, em quinta, para não perder tempo. Abre as portas de casa a quem precisa de um curativo ou de um tratamento que as suas mãos de enfermeira sabem resolver. 

Tem Facebook, telemóvel e tablet. Lê, faz palavras cruzadas, entretém-se a puxar pela veia poética e escreve versos. "Tenho interesse por quase tudo, ouço as notícias, não ligo às telenovelas e não me importo com abola." Liga amiúde aos netos para saber das suas vidas, faz videochamadas de vez em quando. Vai ao cabeleireiro, pinta as unhas para encontros de família e momentos de festa e, quando se proporciona, dá um pezinho de dança com o marido Francisco Cristino, de 85 anos. "Uso os meus cremes." E ninguém lhe dá a idade que tem. "Não tenho envelhecido mal, as pessoas que encontro na rua dizem-me que estou na mesma. " Fez o liceu em Bragança, o curso de Enfermagem em Lisboa, trabalhou no Hospital Santa Maria, voltou à terra, casou, teve três filhos, foi enfermeira do Centro de Saúde de Macedo de Cavaleiros, de onde saiu aos 67 anos.

Em 1907, a esperança média de vida era de 45 anos, em 1957 estava nos 55. Neste momento, no nosso país, anda pelos 80,78 anos. As mulheres vivem, em média, 83,41 anos, os homens 77,74. No ano passado, um estudo internacional colocou Portugal como oquinto país com a maior esperança média de vida do mundo, com Espanha em primeiro lugar, com 85,8 anos, seguida do Japão (85,7 anos), Singapura e Suíça. As previsões indicam que em 2040 os portugueses poderão viver em média até aos 84,5 anos.

No ano passado, Helena Rebelo Pinto, de 81 anos, ganhou o Prémio Envelhecimento Ativo Dra. Maria Raquel Ribeiro, daAssociação Portuguesa de Psicogerontologia. Licenciada e doutorada em Psicologia, professora catedrática, especialista em sono, coordena o Instituto de Ciências da Família e o rnestrado em Ciências da Família da Universidade Católica, em Lisboa. Recebeu o prémio com agrado, orgulho e sinal de respeito não só pelo seu percurso e trabalho, mas também enquanto pessoa. Ser útil em beneficio da comunidade, frutificando os conhecimentos e experiências, faz parte da sua forma de estar na vida. Continua ativa, dá algumas aulas, supervisiona trabalhos de alunos, cria equipas de investigação, faz consultório duas tardes por semana. As manhãs são, normalmente, passadas em casa a rever teses, a corrigir trabalhos, em leituras e pesquisas. Vai ao cinema, ao teatro muitas vezes, a concertos, a exposições assiduamente. Viaja de vez em quando, faz tricô, todos os dias dá uma boa caminhada. Tem três filhos, nove netos e um casamento prestes a fazer 60 anos.

Não gosta de falar do processo de envelhecimento, mas de desenvolvimento. "Todas as fases da vida, todas as idades, têm as suas potencialidades e as suas vulnerabilidades", comenta. Aproveitar as primeiras, estar de olho nas segundas. E a sociedade, na sua perspetiva, focada no culto da beleza e da juventude, que sabe que nenhum sistema aguentará com tanta gente que não produz durante muitos anos, tem de mudar a sua visão. "Há um grupo muito elevado da população que tem um enorme contributo a dar e que não pode ser desperdiçado."

UM NOVO CAPÍTULO DA VIDA

Envelhece-se como se viveu e a compreensão da mudança, a flexibilidade, o humor, e a aceitação de si próprio e do outro fazem parte de um novo capítulo da  vida. Aprende-se a distinguir o que é ​fundamental e oque é acessório num caminho que pode ser mais suave para uns do que para outros. "O envelhecimento nunca poderá ser considerado uma doença. O envelhecimento é o processo natural de todos os seres vivos-que são mortais, cumprem um programa biológico específico de cada espécie que acaba com a morte", afirma Constança Paúl, doutorada em Ciências Biomédicas, diretora do programa doutoral em Gerontologia e Geriatria das universidades do Porto e de Aveiro, coordenadora do Centro de Atendimento 50+, um serviço especializado em envelhecimento.

O declínio associado ao envelhecimento difere de pessoa para pessoa, há funções que uns perdem mais depressa do que outros, não há uma traj etória única. Para Constança Paúl, investigadora do CINTESIS e autora de artigos e livros sobre envelhecimento, o problema não são as pessoas mais velhas ativas, reformadas ou não, porque essas, sustenta, "encontrarão o seu papel na sociedade, irão impor-se pelo número, pelas competências, pelos interesses e necessidades, elas próprias criadoras de novos mercados, serviços, empregos". O problema são os outros. "As populações envelhecidas, mas com doença ou incapacidade, essas sim, colocam questões não respondidas e bem mais complexas às sociedades que devem proporcionar a oferta de cuidados de vária ordem, para lhes garantir a dignidade e a qualidade de vida."

A sociedade tem de olhar à sua volta. "O maior desafio é talvez a organização do mercado de trabalho, de forma a garantir empregos de qualidade para todos, incluindo os mais velhos, aprendizagem ao longo da vida, flexibilidade, sem precariedade, e um repensar do sistema de pensões. A literacia em saúde e a literacia digital são outra prioridade para facilitar o acesso às novas tecnologias e a permanência das pessoas em casa, ao mesmo tempo que promovem a interação social e instrumental." A criação de serviços de qualidade que respondam à diversidade e ao direito de escolha dos mais velhos não pode ser ignorada. É preciso mudar atitudes de discriminação pela idade, formar profissionais nas áreas de gerontologia e geriatria, criar serviços sociais inovadores e alternativos, requalificar serviços sociais e de saúde sem esquecer a sua natureza disciplinar. "Serviços de saúde adequados, não apenas assistencialistas, centrados nas pessoas e na sua qualidade de vida, mais do que na sua sobrevivência, e garantindo a sua escolha individual", sublinha.

Desde o início do século, as respostas sociais da rede pública para os mais velhos aumentaram 59%. São mais 2700 respostas desde 2000, comum maior crescimento nas estruturas residenciais para pessoas idosas e nos serviços de apoio domiciliário - 70 e 71%, respetivamente. Mais lares, mais centros de dia, todos os concelhos têm apoio domiciliário. Em 2015, contavam-se 2707 respostas de serviço de apoio domiciliário, com 108 315 apoios, mais do dobro de 2000. Nesse ano, havia 94 067 lugares em lares de idosos da rede pública em Portugal Continental - em 2010 eram 71261 e cerca de 55 mil em 2000.

O país tem cerca de 2,5 milhões de pensionistas, 25% da população. É uma fatia significativa. Para Vieira da Silva, ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social, o país tem sabido acompanhar a curva demográfica, social e económica do envelhecimento. "O envelhecimento não apareceu do nada, nem é um fenómeno que se possa resumir aos acontecimentos dos anos recentes", afirma à "Notícias Magazine." Tem décadas de trajetória. O governante refere que os portugueses com mais de 65 anos têm uma relação com o rendimento global acima dos países da OCDE, que a idade da reforma tem a sua componente legal e real, que há mecanismos para que os mais velhos continuem no mercado de trabalho ("a idade da reforma não é obrigatória, é a idade para ir para a reforma, não obriga a cessar um contrato de trabalho", diz), que a sociedade tem demonstrado um grande dinamismo, nomeadamente com as universidades seniores, e que a rede dos equipamentos sociais "teve uma evolução muito significativa nas últimas duas décadas e meia". O envelhecimento do país é um assunto que não lhe sai de cima da mesa. "Precisamos de continuar a investir na modernização de algumas estruturas que já estão antiquadas e densificar e enriquecer as de natureza domiciliária, não tão padronizadas, mas mais adaptadas às realidades das pessoas."

A nível biológico, o envelhecimento é uma acumulação gradual de danos moleculares e celulares que resultam do declínio progressivo e generalizado das funções fisiológicas e de uma maior  vulnerabilidade ao meio ambiente. Não é uma patologia, é um elevado fator de risco para várias doenças. Para Elsa Logarinho, bioquímica e investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), no Porto, é importante perceber que órgãos envelhecem primeiro e apostar no avanço de terapêuticas para as patologias que mais afetam e incapacitam os mais velhos. "No futuro, as doenças associadas à idade avançada serão provavelmente as mesmas, mas serão mantidas num estado sub clínico crónico e com menor comorbilidade. Mais dificilmente surgirão episódios cardiovasculares agudos, cancros agressivos, obstruções respiratórias. Infelizmente, doenças como Alzheimer e outras demências aumentarão num futuro próximo, mas as intervenções anti-envelhecimento, como a dieta e os senolíticos [medicamentos que diminuem o processo de envelhecimento], começam a dar sinais de eficácia também a nível das doenças neurodegenerativas", refere.

O envelhecimento terá de ser uma área prioritária da investigação no nosso país. "A médio prazo, a comunidade científica deverá focar-se no estudo do envelhecimento e não numa patologia em particular, como tem sido o caso até agora." Até porque o envelhecimento não é um assunto de modas, é uma questão de todos os dias que mexe com os alicerces de um país e de todo o seu povo. 

Notícia: Notícias Magazine