O meu primeiro dia foi muito interessante. Iniciámos as aulas no então Instituto de Estudos da Criança (IEC), no edifício dos Congregados, em pleno centro de Braga, com uma excelente receção da professora e diretora de curso Lucília Valente. Começámos logo com exercícios de confiança para nos conhecermos melhor.
 
Ingressou em Educação de Infância na década de 1990. Foi a sua primeira opção?
Fiz antes bacharelato em Educação de Infância na Universidade de Aveiro. Até porque sou natural do distrito de Aveiro. Depois inscrevi-me na UMinho para estudar Expressões Artísticas Integradas na Educação. Na continuação por terras bracarenses decidi realizar a licenciatura em Educação de Infância, tendo sido o primeiro homem educador licenciado do país.
 
Como foi estudar num curso constituído maioritariamente por mulheres?
No curso Expressões Artísticas Integradas na Educação éramos apenas três homens. Integramo-nos na perfeição. Éramos colegas, o género em nada diferenciava atitudes e comportamentos.
 
Que mais-valias teve a formação na UMinho no seu percurso profissional?
Foi provavelmente a melhor experiência académica que tive. E posso dizê-lo com conhecimento de causa, uma vez que estudei primeiro em Aveiro. Na UMinho fiz Erasmus em Barcelona, uma experiência muito enriquecedora! Frequentei depois os doutoramentos em Ciências da Educação na Universidade de Salamanca, em Gerontologia Social na Universidade de Santiago de Compostela e o mestrado em Arte e Educação no Instituto Superior Bissaya Barreto. A relação com os docentes do IEC (atual Instituto de Educação) e restantes elementos da comunidade académica despertou em mim este forte desejo de estudar.
 
Chegou a dar aulas?
Claro que sim. Dei aulas de teatro no ensino unificado e no secundário formei animadores socioculturais e técnicos de apoio sociocultural. Fui ainda professor na Universidade de Aveiro e na Escola Superior de Educação de Fafe, onde coordenei durante dois anos a licenciatura de Gerontologia Educativa.

Como começou a sua vida de ator?
A primeira vez que pisei o palco tinha 5 anos. Já na altura tinha o bichinho do teatro [risos]. Dei continuidade a esse trabalho com a fundação do grupo de teatro para a infância Arlequim, em 1978, tendo recebido a minha carteira profissional nos inícios dos anos 80.
 
O Arlequim foi pioneiro nos espetáculos para a infância, juntamente com o TAI, do Porto, o Juventus, de Viseu, e o Lanterna Mágica, de Lisboa.
Mais ou menos. O TAI, o Juventus e o Lanterna Mágica eram grupos dedicados ao teatro de fantoches, enquanto o Arlequim apostou desde o início no teatro para a infância. Daí termos nascido em 1978, véspera do primeiro Ano Internacional da Criança festejado em Portugal.
 
Em 2012 fundou o Museu do Brincar, sediado no Palacete Visconde de Valdemouro, que já sediou a Câmara Municipal de Vagos. O que podemos aí encontrar?
O Museu do Brincar é um projeto que tenho vindo a desenvolver com a minha esposa há 32 anos. Em 2010, o município desafiou-nos a montar uma exposição para comemorar o centenário da Implantação da República, à qual chamámos "A Criança e o Brinquedo, percursos pela República". O sucesso foi tão grande que a Câmara nos convidou a ocupar permanentemente o Palacete. Hoje, com sete anos de existência, o Museu já é uma referência internacional, tendo recebido várias distinções. O espaço conta com um acervo de 22 mil peças, que vão desde o brinquedo ao material escolar, passando pela literatura infantojuvenil. Este êxito resulta também da aposta numa programação diversificada para pequenos e graúdos.
 
Funciona como um cartão de visita à cidade?
O Museu do Brincar é o ex-libris do município. Transporta o seu nome quer por Portugal quer por outros países.
 
Para além de ser professor e ator, é também o único Pai Natal certificado da Península Ibérica.
É verdade! A minha paixão pela figura do Pai Natal levou-me a pesquisar mais sobre São Nicolau e a encontrar escolas de formação de pais natais nos EUA. Numa dessas escolas, fiz o juramento de Pai Natal com base nos princípios de São Nicolau. Hoje faço parte de nove instituições internacionais e ainda tenho as "barbas" registadas no Livro Nacional de Barbas (EUA). Sou o único Pai Natal certificado da Península Ibérica, o que é uma grande responsabilidade perante as crianças e os princípios ideológicos que norteiam o comportamento dos pais natais. Em 2018 lancei a Escola Ibérica de Pais Natais, a primeira do género em Portugal e Espanha.