João Barros soma mais de 20 anos de experiência, tendo desenvolvido trabalho na Google, Amazon e Farfetch. Depois das grandes empresas, o português decidiu abraçar o desafio e regressar a uma startup, onde enfrenta desafios para os quais se assume pronto.

É português mas foi no estrangeiro que fez nome no mundo da tecnologia. João Barros assumiu no passado mês de janeiro as rédeas como Chief Operating Officer (COO) da Nutrium e já tem desafios pela frente.
 
A startup portuguesa que desenvolveu um programa de alimentação saudável para empresas do segmento corporativo (Nutrium Care) viu em João Barros a pessoa ideal para inaugurar o cargo que agora ocupa e para liderar a expansão internacional da empresa bracarense.
 
João Barros tem mais de 20 anos de experiência e conhecimento no mundo da tecnologia e de startups que são agora grandes empresas. No currículo do português constam a Google, Amazon e a unicórnio nacional Farfetch, tendo sido líder de operações em todas elas. Agora, o chefe de operações vai coordenar a estratégia de lançamento da Nutrium Care em Espanha e no Brasil a partir de Braga.
 
O Jornal Económico falou com João Barros para perceber o que levou o português a aceitar uma proposta de regresso a casa e quais os desafios que uma empresa de pequena escala representa após ter integrado três equipas da grande liga.
 
De grandes empresas para uma startup. Quais os desafios que esta mudança comporta?
Fazer mais, com menos. Esse é o maior desafio de qualquer startup, e a Nutrium não é diferente. Queremos fazer muita coisa, seguir vários caminhos, mas temos de estar focados e equilibrar o impacto imediato com o impacto a longo prazo. A maioria das grandes empresas tem uma estrutura, tanto de pessoas como de recursos financeiros, que lhes permite arriscar em várias frentes ao mesmo tempo. As startups não se podem dar a esse luxo. Têm que tomar decisões de risco ponderado, e medir qual o caminho que terá maior impacto a curto prazo mas que lhes permitirá aumentar as probabilidades de atingir os objectivos de longo prazo.
 
Para mim, pessoalmente, o desafio passa pela responsabilidade e as expectativas que a Nutrium tem com a minha entrada, com a minha influência para ajudar a empresa a escalar, e entrar em mercados muito diferentes com um modelo de negócio totalmente novo.
 
Já a diferença cultural não me parece ser um desafio. A Nutrium, com cerca de 50 colaboradores, tem apostado na proximidade e boa relação entre os membros de todas as equipas, promovendo um modelo 100% livre entre trabalho remoto e presencial, com eventos variados, e oportunidades para colaboração espontânea. Neste caso o desafio é mais de garantir que todos se sentem incluídos, informados e parte da equipa, estejam em Portugal, ou em qualquer outro país.
 
O que o fez escolher trabalhar nesta startup de HealthTech?
O facto da Nutrium operar na área de HealthTech foi, sem dúvida, um atrativo enorme. Eu acredito muito no potencial que esta área tem para influenciar positivamente a vida de muitas pessoas.
 
Acredito que temos tudo para alcançar o sucesso: um serviço que tem realmente impacto, uma equipa dinâmica e com alta capacidade, e a maior rede internacional de nutricionistas, presentes em mais de 40 países e unidos pelas mais valias da tecnologia Nutrium, que já os ajudou a impactar mais de 1.5 milhões de pacientes em todo o Mundo.
 
Outra coisa que me chamou a atenção foi o caminho que a Nutrium tem percorrido desde a sua fundação, em 2015. A startup tem vindo a crescer e a ganhar o seu espaço no mercado, não só em Portugal mas em todo o mundo, e apresenta-se hoje como uma das soluções mais procuradas pelos nutricionistas. A missão de mudar vidas através da alimentação tem-se mantido sempre, potenciada agora pela entrada no modelo corporativo.
 
Como surgiu a oportunidade?
Já conhecia a Nutrium há muito tempo, e sempre acompanhei o crescimento da empresa. O André Santos, o CEO, conhecia o meu trajeto, a minha experiência e decidiu desafiar-me para ajudá-lo a levar a empresa para o próximo nível.
 
Recém-chegado, quais os desafios que prevê enfrentar?
A nossa missão, como empresa, é tornar o mundo mais saudável. A maior barreira que encontramos é a falta de reconhecimento, em geral, da importância da nutrição. Todos comemos várias vezes ao dia, mas poucos de nós sabemos como comer bem. A grande maioria da população não faz ideia do que significa comer bem.
 
Para muitos, a nutrição só se torna relevante quando encontram um problema, seja a necessidade de perder peso, de baixar o colesterol, ou uma doença como a diabetes. Mas não, a nutrição tem impacto na fertilidade, tem impacto durante a gravidez, tem impacto na saúde física e também na mental, no stress e ansiedade. Tem também impacto no sono, na nossa felicidade, na nossa performance. Afeta tudo. Mas é importante que consigamos passar esta mensagem, e que as empresas percebam que a nutrição é a peça que falta no puzzle do bem-estar.
 
Outro desafio é, com certeza, a internacionalização do Nutrium Care. Temos de gerir o equilíbrio entre a nossa ambição e a nossa sustentabilidade, e entrar em mercados novos, com culturas diferentes, mas onde sabemos que vamos conseguir ter o impacto que já temos em Portugal. Temos nutricionistas em quase todo o mundo, por isso a nossa ambição é garantir que a operação do Nutrium Care esteja no mesmo patamar.
 
Tem a expansão da Nutrium Care em mãos. Como vê este desafio?
É um grande desafio. A Nutrium é ainda uma startup, com uma presença praticamente desconhecida no mundo do bem-estar corporativo. Se isso já é um desafio no nosso mercado português, então ir para fora multiplica o tamanho do desafio. A expansão tem que ser bem planeada, analisada, não podemos dar muitos passos em falso, mas queremos ser ambiciosos e rápidos a executar. Queremos aproveitar mercados onde temos já uma presença forte da nossa solução para nutricionistas, e usar isso como alavanca para potenciar uma entrada na componente do bem-estar corporativo. No fundo, aproveitar sinergias para reduzir as barreiras. Sabemos que com a conjuntura económica atual o desafio é maior, mas isso deixa-nos ainda mais motivados em pavimentar o nosso percurso.
 
É o responsável pela expansão para Espanha e Brasil. O que pode desvendar?
O Nutrium Care tem tido grande sucesso em Portugal, o primeiro país em que o lançamos. Temos connosco empresas de vários sectores e vários tamanhos. Temos telcos como a Vodafone, seguradoras como a Ageas, temos a Randstad, temos startups tecnológicas. Todas têm valorizado muito o programa e visto resultados, não só a nível da saúde dos colaboradores, mas também ao nível da cultura da empresa. Isso reflete-se numa taxa de renovação de contratos superior a 90% até ao momento.
 
Para Espanha, a estratégia será semelhante. Temos uma equipa local super talentosa, dedicada a comunicar com empresas espanholas que tenham interesse em melhorar a vida dos seus colaboradores. E temos também uma equipa de nutricionistas locais, para garantir uma total personalização ao país e às empresas locais.
 
Já o Brasil é o mercado mais avançado do mundo na componente da nutrição, onde estamos a crescer rapidamente na solução para nutricionistas. Na componente corporativa estamos a negociar com as primeiras empresas e estamos já ativamente a trabalhar com parceiros estratégicos que nos ajudarão a acelerar a penetração no mercado. Deveremos ter novidades mais concretas para partilhar em breve.
 
De que forma as experiências vividas na Google, Amazon e Farfetch têm influência neste novo cargo?
A Google, a Amazon e a Farfetch são empresas que, apesar de estarem cotadas na bolsa e serem muito grandes, ainda se pautam muito pela postura interna de startup. Ou seja, testar muita coisa, falhar rapidamente, e estar constantemente focadas no crescimento e expansão. Obviamente que têm outra estrutura e suporte, e podem-se dar ao luxo de falhar mais, mas a forma como se posicionam internamente, como se avaliam e implementam projectos, como se gerem as prioridades, são tudo coisas nas quais posso estabelecer paralelismos e ajudar a Nutrium a consolidar-se e ser mais forte. Já para não falar da cultura de trabalho e bem-estar, que é um dos pontos mais importantes para alguns destes gigantes, e que deveria ser a norma na maioria das empresas. Felizmente a Nutrium está muito bem aí, mas há sempre mais que podemos fazer.
 
Que oportunidades de crescimento pretende privilegiar para o sucesso da Nutrium?
Consolidar o software para nutricionistas, e usar isso para alavancar a melhor solução de bem-estar corporativo, tendo a nutrição como base. Queremos ser uma referência global na área da nutrição, onde ainda há muito para explorar.
 
Quais as decisões mais difíceis que já teve de tomar enquanto líder?
As decisões mais difíceis são sempre as que envolvem pessoas e o futuro delas. Quando estamos em cargos de liderança, a nossa maior responsabilidade, independentemente do tamanho dos projectos e de quão grande a empresa é, são as pessoas que trabalham connosco. Temos de ter sempre presente o seu crescimento, as suas ambições, o seu desenvolvimento de competências, e a sua exposição a experiências e projectos que os estimulem e desafiem. No entanto, também temos de por vezes lidar com incompatibilidades, com negativismo, com falta de encaixe no que são as necessidades, postura e cultura da empresa.
 
Volvidos 20 anos de carreira, onde se vê, profissionalmente, daqui a 10 anos?
Estes 20 anos passaram a voar! Ainda há muito para aprender, para fazer, para construir. Sinto que fui um privilegiado por ter trabalhado nas empresas em que trabalhei, por ter podido aprender com pessoas super dinâmicas, inteligentes, com culturas e posturas muito diferentes.
 
O que vejo para o meu futuro próximo é poder partilhar toda esta experiência e conhecimentos com os outros, com outras empresas, especialmente em Portugal, e contribuir para que o nosso país produza cada vez mais empresas com sucesso, com impacto global, e que ajudem a que o nosso mercado laboral se desenvolva tanto em oportunidades como condições salariais e de benefícios para todos.
 
Notícia: O Jornal Económico