Ana Marques é de Espinho e tem 31 anos. Estudou Engenharia e Gestão Industrial na Universidade do Minho, passou pela Irlanda e atualmente vive em Leipzig, na Alemanha. Assume que a adaptação ao país não foi fácil, mas não desistiu do sonho e hoje gere uma equipa de 80 pessoas numa empresa mundialmente conhecida: a Amazon.
 
Ana Marques, ou Anokas como é carinhosamente conhecida pelos seus amigos, formou-se em Engenharia e Gestão Industrial na Universidade do Minho, em Guimarães. Estagiou na empresa Bosch e não perdeu a oportunidade de fazer Erasmus na Irlanda. Fez voluntariado em S. Tomé, foi escuteira, viajou e nunca faltou tempo para visitar a terra e os amigos: “Nunca abdiquei do que gostava. Se estava nos meus planos sair de Espinho e fazer vida no estrangeiro? Não, de todo. Mas em Espinho faltavam oportunidades e apesar de estar nos meus planos um pequeno período no estrangeiro para ganhar experiência e crescer profissionalmente, não era intenção ficar por lá. Lembro-me quando estava de partida para a Alemanha, ainda no aeroporto, disse aos meus pais para não se preocuparem e que o plano era de apenas 18 meses”, começou por contar a engenheira.

“A adaptação foi muito difícil”
 
Os 18 meses rapidamente se transformaram em oito anos. Apesar de muitos entraves no início, a verdade é que Ana Marques confessa estar já entranhada na cultura alemã: “A adaptação foi muito difícil. Não sabia falar alemão e isso dificultava tudo. A cultura também é muito diferente. Os alemães são mais frios, muito pontuais e organizados e não sabem trabalhar sobre pressão. Ao contrário do «tuga» que trabalha mais à base do desenrasca. Isso é impensável e impossível para os alemães. Contudo, é mais que possível encaixarmo-nos na cultura deles e mostrarmos que a nossa cultura tem ferramentas para melhorar a forma de trabalhar deles”, explica a ex-aluna da Universidade do Minho.
 
No entanto, Ana Marques considera-se uma sortuda por ter encontrado os “melhores alemães”, que a ajudaram e apoiaram na adaptação ao novo país e que hoje “são amigos de coração e uma família”.
 
Segredos para o sucesso: muito trabalho e não deixar de sonhar
 
Depois da passagem pela empresa Bosch, em Braga e pela Volkswagen, na cidade de Wokfsburg, na Alemanha, Ana Marques abraçou o projeto de liderar uma equipa de 80 pessoas na Amazon. A engenheira considerava impensável trabalhar num cargo de liderança no estrangeiro, mas as experiências antigas e a luta pelo sonho, permitiram-lhe ser líder de equipa numa das maiores empresas a nível mundial: “Todos os trabalhos e experiências curriculares foram uma ajuda e permitiram-me estar hoje onde estou. A verdade é que nunca pensei que fosse possível trabalhar num cargo de liderança na Alemanha. Por várias razões, mas principalmente pelo entrave da língua e diferenças culturais. Mas é possível! E só precisei de trabalhar para isso e não desistir desse sonho. Posso dizer que encaixei como uma luva na equipa e na cultura da Amazon e tenho a certeza que foi um passo dado na direção certa”, diz a espinhense de 31 anos.
 
Perceber a cultura é essencial à adaptação num novo país
 
As diferenças culturais são um entrave à adaptação a um novo país. Contudo, não é impossível emigrar e ser feliz. Exemplo disso é Ana Marques que dá dois conselhos a quem o pensa fazer: “Primeiro, é preciso não ter medo. Os portugueses encaixam-se em qualquer lado e temos boas universidades que nos preparam muito bem. Nós, portugueses, somos bons. Eu própria senti-me assustada por partir para um país onde todos são considerados perfeitos. Mas ao fim de pouco tempo percebi que era uma peça fulcral na empresa onde estou, mesmo vinda de um país onde tudo funciona, como se costuma dizer, ao Deus dará”, começa por explicar a emigrante. “Depois, é preciso viver a cultura do país onde estamos. Não devemos deixar de procurar por cantinhos portugueses para nos sentirmos em casa de vez em quando, mas é essencial vivermos como eles vivem, até porque a aceitação por parte deles será maior. A verdade é que também não gostamos quando os estrangeiros vêm para o nosso país e não tentam perceber a nossa cultura”, termina.
 
Vontade é de regressar mas para já adiada
 

Já familiarizada com a cultura alemã, Ana Marques não esconde a vontade em regressar ao país de origem, mas confessa que ainda não é altura para isso. Além do mais, convida os espinhenses a visitar aquele que agora é o seu país e garante que há muito para visitar e para... beber.
 
“Eu sou uma fã de cerveja e não é preciso mencionar o célebre Oktoberfest, que é um festival de cerveja bastante conhecido na Alemanha. Os espinhenses têm mesmo de o conhecer. Também existem cidades bonitas e histórias de guerra, mas isso há em todos os países. Portanto, deixo o convite... se quiserem visitar a Alemanha, vamos beber uns canecos”, faz o convite.
 
Fonte: Maré Viva